Por Patricia Vicente Rua
LISBOA, 8 Out (Reuters) - Os mercados de capitais terão um papel crucial na recuperação pós-COVID ao contribuírem para a canalização da poupança das famílias e a recapitalização das empresas, disse Gabriela Figueiredo Dias, presidente do regulador CMVM.
A Presidente do Conselho de Administração da Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) lembrou que a pandemia de Covid-19 resultou "num choque externo de dimensões históricas sobre a economia real e para os mercados financeiros", sendo de esperar um aumento do endividamento privado e público e do número de falências e incumprimentos.
"É muito real o risco de um agravamento significativo das condições de financiamento por via de capital alheio, e em particular através do sistema bancário", realçou, num discurso, no âmbito da Semana Mundial do Investidor.
"Os mercados de capitais terão um papel ainda mais essencial enquanto fonte alternativa de financiamento e deverão assumir um papel central na retoma, especialmente para canalizar a poupança das famílias para a economia, oferecendo-lhes oportunidades de investimento com maior retorno e contribuindo para a recapitalização das empresas, permitindo-lhes uma estrutura de capital equilibrada, diversificada e mais resiliente", disse.
Acrescentou que para que o mercado nacional possa assumir plenamente este papel, é fundamental uma abordagem integrada às suas várias dimensões e coerente entre os vários instrumentos de apoio à retoma económica no plano nacional e europeu, em particular o plano de recuperação e resiliência português e as iniciativas propostas pela Comissão Europeia.
Portugal está a ultimar o Plano de Recuperação e Resiliência, onde prevê investir as verbas europeias disponibilizadas para o combate à crise causada pela pandemia do novo coronavírus, e que deverá ser enviado a Bruxelas na próxima semana.
Recentemente, a OCDE identificou mais de 400 empresas não financeiras, não cotadas e de dimensão relevante, 67 das quais com ativos que excedem o valor médio dos ativos das empresas cotadas, situadas na primeira linha de acesso a financiamento em mercado.
"A estas acresce um elevado e maioritário número de empresas de menor dimensão, que ambicionamos que possam crescer, e que não podemos deixar de fora num projeto de dinamização de mercado de capitais", alertou.
O Banco de Portugal anunciou na terça-feira que está ligeiramente menos pessimista quanto à recessão da economia portuguesa este ano, vendo o PIB contrair 8,1% em 2020, contra uma queda de 9,5% prevista em Junho, com o levantamento dos 'lockdowns'. 2019, o PIB português cresceu 2,2%.
(Por Patrícia Vicente Rua; Editado por Sérgio Gonçalves)