(Acrescenta citações do CFO Millennium bcp)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 9 Fev (Reuters) - O Millennium bcp BCP.LS , usando os fundos do aumento de capital, está "neste preciso momento" a pagar a última tranche de 700 milhões de euros (ME) da ajuda pública (Coco's), disse o CFO do banco, frisando que a chinesa Fosun continua comprometida em reforçar a posição no capital para 30 pct.
O Millennium bcp - maior banco privado de Portugal - concluiu com sucesso um forte 'cash call' de 1.330 milhões de euros (ME) recentemente, tendo o Chief Financial Officer (CFO) frisado que "este aumento de capital visou sobretudo esse pagamento" ao Estado.
"Hoje, neste preciso momento, estão a ser pagos esses 700 ME ao Estado. Hoje, ao final do dia, não há mais 'capital' do Estado no BCP, ganhando o BCP autonomia estratégica", disse Miguel Bragança numa apresentação na Euronext Lisbon.
A chinesa Fosun 0656.HK reforçou a sua participação no Millennium bcp para 23,92 pct neste aumento de capital, consolidando a posição de maior accionista.
A Fosun tinha dado uma ordem irrevogável para reforçar a sua participação para 30 pct do capital do Millennium bcp, dos anteriores 16,7 pct.
FOSUN QUER
Miguel Bragança lembrou que "a Fosun teve dois tipos de compromissos" - um compromisso legal de dar ordem para comprar até 30 pct no aumento de capital e "um compromisso público, reputacional, de chegar a 30 pct".
"Nesta altura continua o compromisso público de chegar a esse nível (de 30 pct) (...) a única maneira de chegar aos 30 pct é através de compras em Bolsa", disse, adiantando: "terão de perguntar à Fosun como querem fazer e o timing".
A 'oil' estatal angolana Sonangol, que se mantém como a segunda maior accionista, detinha antes deste aumento de capital uma participação de 14,9 pct.
A Sonangol, à semelhança da Fosun, também está autorizada a aumentar a sua participação até à fasquia dos 30 pct.
O CFO disse que o Millennium bcp ficou com "uma estrutura accionista diversificada", explicando que os accionistas qualificados terão ficado com 40 a 41 pct do capital, os institucionais 26 a 27 pct e o restante colocado no retalho.
"Obtivemos um sinal de confiança no BCP, no sistema financeiro português e, de alguma forma, também em Portugal".
A cotação do Millennium bcp, maior banco privado de Portugal, chegou a estatelar-se 13 pct hoje - para abaixo do preço teórico ex-rights - e segue a descer 3,97 pct com a admissão à negociação a 'enxurrada' de acções de 14.327 milhões de acções relativas ao aumento de capital.
"É normal haver situções destas no primeiro dia (de admissão à negociação). Há algum profit-taking", disse Miguel Bragança, sublinhando que "o valor intrínseco do banco é um valor sólido".
Na sequência deste aumento de capital, o Millennium bcp prevê um 'return on equity' de cerca de 10 pct em 2018, ano em que vê um potencial regresso à distribuição de dividendos com um 'pay out ratio' igual ou superior a 40 pct.
ESTÁ MELHOR
O CFO disse que a estrutura de balanço do Millennium bcp está estabilizada, explicando que há quatro anos "por cada 100 unidades de depósitos tinha mais de 160 unidades de crédito, e tinha mais de 30.000 ME de necessidades de financiamento no mercado grossista", que era um risco importante.
"Hoje temos um balanço 'quadrado' em termos de liquidez pois os nossos depósitos são razoavelmente iguais aos nossos créditos e o nosso financiamento no mercado grossista é irrelevante".
Lembrou que, há quatro anos e à semelhança de vários bancos portugueses, o BCP tinha um "modelo de negócio complexo", com o 'cost-to-core-income' à volta de 85 pct, que comparava com a média europeia de 80 pct, frisando: "neste momento estamos com valores em redor dos 50 pct quando a média europeia se manteve constante".
"Conseguimos gerar, antes de provisões, mais de 1.000 ME por ano de resultado operacional. É isso que dá sustentabilidade ao negócio, é isso que permitiu ter a confiança dos nossos investidores", afirmou Miguel Bragança.
"Quanto às 'non performing exposures' (NPEs) (também) temos conseguido, ao longo destes últimos quatro anos, baixar mais de 1.000 ME por ano", salientou.
"Quando se fala hoje de 'bad bank', de uma solução para o crédito duvidoso, duvido que haja outras soluções que tivessem podido reduzir de uma maneira tão eficiente - em termos de capital - mais de 1.000 ME por ano como nós o fizemos". (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)