(Acrescenta citações do CEO António Mexia)
Por Sergio Goncalves
LONDRES/LISBOA, 12 Mar (Reuters) - A EDP-Energias de Portugal EDP.LS planeia investir 12.000 milhões de euros (ME) até 2022 para impulsionar a aposta em renováveis sobretudo na América do Norte e Europa, prevendo encaixar mais de 6.000 ME com rotações e vendas de activos, reduzindo a exposição na Ibéria, disse a EDP (SA:ENBR3).
O maior grupo industrial português prevê uma redução da dívida da ordem dos 2.000 ME nos quatro anos face aos 13.500 ME de 2018, visando descer o rácio Net Debt/EBITDA dos 4,0 vezes para menos de 3,2 vezes em 2020 e um nível inferior a 3,0 vezes em 2022.
Estima que o seu lucro líquido crescerá a uma taxa anual composta (CAGR) superior a 7 pct para atingir mais de 1.000 ME em 2022, suportado num CAGR acima de 5 pct do EBITDA, que deverá exceder os 4.000 ME no fim do período, refere na apresentação do seu 'Strategic Update' aos analistas.
A empresa - sob uma OPA da China Three Gorges (CTG) que tem a oposição do accionista activista Elliott - promete uma "política atractiva" de dividendos, mantendo o 'floor' de 0,19 euros por acção, mas subindo o rácio de 'payout' para entre 75 e 85 pct versus entre 65 e 75 pct actuais.
Desde 2005, a EDP já distribuiu 8.000 ME em dividendos.
VENDE ACTIVOS IBÉRIA
Visando "optimizar o seu portfolio", a EDP quer cristalizar um valor superior a 4.000 ME com rotação de activos e adicionalmente encaixar mais de 2.000 ME com alienações, querendo "reduzir a exposição à Ibéria/'merchant/'térmica'".
António Mexia referiu que "se a oportunidade estiver lá, a EDP pode fazer mais de 2.000 ME", mas este é o target.
"Nós precisamos de reduzir a nossa exposição em 'merchant' (na Ibéria), isto significa térmica e eventualmente activos não-térmicos", afirmou o CEO.
"Vender posições minoritárias em 'networks'? Nós não temos tabus, o nosso caminho preferido é reduzir merchant na Ibéria, mas precisamos de mostrar que, se por qualquer chance se (tornar) impossivel, estamos a estudar alternativas", adiantou.
Contudo, realçou que tem de ser a uma escala que faça sentido.
"(A venda de activos na Ibéria) é um processo que não começou agora, começou há três anos", disse o CEO aos analistas e investidores, lembrando a venda a Naturgas em Espanha.
TUDO ABERTO BRASIL
António Mexia disse, quanto ao Brasil e Latam, disse que "manteremos a exposição e opcionalidade de crescimento".
Miguel Stilwell, Chief Financial Officer (CFO), referiu que no Brasil a EDP quer uma "execução superior de projectos existentes e melhoria contínua das operações", mas está "aberta à consolidação e oportunidades de crescimento que criem valor".
Mexia explicou que a EDP Brasil tem um papel relevante, tem grande visibilidade e reiterou que a casa-mãe não vai comprar a posição dos minoritários, tal como não comprará na EDP Renováveis.
"O Brasil é consistente com a nossa estratégia, mas nós consideraremos tudo que crie valor", afirmou.
A Elliott, na alternativa ao 'bid' de 9.000 ME da CTG, propôs que a EDP encaixe 7.600 ME com vendas activos, alienando os 51 pct que tem na EDP Brasil - hipótese que o Governo qualificou como "muito infeliz" - e vendendo o portfólio de geração térmica ibérica e 49 pct da distribuição na Ibéria.
Para o fundo activista norte-americano, esta optimização do portfólio permitiria investir 3.500 ME em renováveis, adicionando 3,5 GW de capacidade extra a curto-prazo e executar um 'share buyback' de 1.200 ME.
MAIS CAPACIDADE
Mas, a EDP quer acelerar o crescimento em renováveis com mais de 7 GW em adições e execução de projectos de transmissão no Brasil, perfazendo um investimento total de 12.000 ME no período.
"É novamente uma transformação, uma nova fase da empresa (...) estamos realmente a aumentar o ritmo com total visibilidade", disse António Mexia, recordando que o novo plano foi ontem aprovado pelo Conselho Geral de Supervisão da EDP, que tem accionistas chave, mas a maioria são independentes.
A 'utility' portuguesa explicou que 55 pct do 'pipeline' relativos àquele 'capex' já está assegurado, 20 pct está em negociação activa e os restantes 25 pct estão identificados.
"A EDP tem um distintivo portfólio de renováveis com hydro, solar e eólica que tenciona estender mais - intensificar o crescimento, diversificar mais a tecnologia (solar/offshore) e expandir o alcance global - fazendo desta plataforma o principal motor de crescimento", disse na apresentação.
As "geografias de crescimento" serão a América do Norte - EUA, Canadá e México - e o resto da Europa, sendo que o Brasil é para manter a exposição, enquanto prevê reduzir na Ibéria.
Adiantou que 90 pct do 'capex' será em activos regulados ou com contratos de longo prazo, para sustentar mais de 75 pct da exposição do EBITDA, mantendo o perfil de baixo risco.
Em 2022, as renováveis representarão mais de 70 pct das fontes de geração de energia, contra 66 pct em 2018 e apenas 20 pct em 2005. Em 2030, o seu peso superará os 90 pct.
A estatal chinesa CTG, que é a maior accionista da EDP com 23 pct de participação, lançou uma oferta de 9.000 ME sobre a 'utility' portuguesa em Maio do ano passado, mas a EDP considerou que o preço de 3,26 euros por acção é muito baixo.
A Elliott tem uma posição de 2,9 pct na EDP, sendo um dos dez maiores acionistas.
A OPA da CTG precisa de aprovação regulatória em vários países, incluindo o Brasil, os Estados Unidos, Portugal e a União Europeia.
Recentemente, fontes disseram à Reuters que a CTG interrompeu as negociações com os reguladores da UE sobre o lance proposto.
Os analistas vêm difícil que a CTG tenha o 'OK' das autoridades norte-americanas - Cifius - para comprar os activos nos EUA, bem como da DG COMP europeia pois pode violar as regras europeias de concorrência do 'unbundling' - obrigação de separar a produção e a distribuição de electricidade do transporte.
Em Portugal, o transporte de electricidade é fornecido pela REN-Redes Energéticas Nacionais RENE.LS , que é detida em 25 pct pela China State Grid, que, como a CTG, é propriedade do Estado chinês. A EDP produz e distribui electricidade. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Andrei Khalip)