(Acrescenta citações vice-presidente Banco Europeu Investimento)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 21 Jan (Reuters) - A Europa está a perder a corrida da inovação e digitalização para a China e tem de investir mais em investigação e desenvolvimento (I&D) para suportar o crescimento de longo prazo, sob pena de deixar de ter relevância no panorama global, disse o governador do Banco de Portugal, Carlos Costa.
Recentemente, Bruxelas aprovou as linhas gerais do programa Horizonte Europa, prevendo um orçamento de 100.000 milhões de euros (ME) para investir em ciência entre 2021 e 2027, ou seja cerca de 25 pct mais do que o programa europeu para estimular a investigação e inovação entre 2014 e 2020.
"Vivemos num mundo cada vez mais globalizado, em que assistimos a uma mutação contínua da inovação, à ascensão rápida do sector digital e da economia intangível e ao aparecimento de novos players globais no domínio da investigação e desenvolvimento, como a China", disse Carlos Costa.
"Para a União Europeia – e para cada um dos Estados Membros que a integram – é crucial participar nesta corrida global da inovação e da digitalização, sob pena de a Europa perder relevância no panorama internacional", adiantou o também membro do conselho de governadores do Banco Central Europeu.
INVESTIR MAIS
Explicou que "é pela via do investimento, da aposta na inovação e da capacidade de tirar partido das potencialidades da economia digital que se podem criar condições para o aumento da produtividade, indispensável ao crescimento económico no longo prazo".
"Os avanços tecnológicos promovem o surgimento de empresas em sectores inovadores, com novas formas de trabalhar e novas competências. Exigem, também, transformações profundas nos modelos de negócio das empresas dos setores mais tradicionais".
Frisou que "a capacidade de inovação é uma importante alavanca da produtividade e da competitividade das empresas e da economia no seu conjunto".
"É pois fundamental que as empresas portuguesas evoluam no sentido de patamares superiores da cadeia de valor, da incorporação de conhecimento e do aproveitamento e rentabilização dos benefícios decorrentes da evolução tecnológica, incluindo a digitalização", referiu Carlos Costa.
Carlos Costa destacou, "com satisfação" que o EIB Investment Survey 2018 relativo a Portugal mostrou que duas em cada cinco empresas portuguesas, ou seja 40 pct, declararam ter desenvolvido ou introduzido novos produtos, processos ou serviços como parte das suas atividades de investimento.
Este valor situou-se acima da média da União Europeia, que é de 34 pct.
"Importante também é o facto de 14 pct das empresas declararem que se trata de inovação que é nova no país ou no mercado global", concluiu.
Emma Navarro, vice-presidente do Banco Europeu de Investimento, afirmou que, desde 1976, o BEI financiou Portugal em 50.000 ME e, em 2017, segundo os últimos dados, concedeu financiamentos no valor de 1 pct do PIB português, incluindo mais de 1.000 ME para apoiar mais de 6.600 PME portuguesas.
NÃO CHEGA
Contudo, frisou que "hoje, apesar da significativa melhoria nos últimos anos, o investimento em Portugal ainda está 20 pct abaixo do seu nível pré-crise, e o investimento em termos de PIB está cerca de 5 pontos percentuais abaixo da média da UE".
"Agora que a economia portuguesa recupera a um ritmo muito elevado, as necessidades de investimento tornam-se mais prementes", referiu Navarro.
Também ao nível da UE, onde o investimento total atingiu as médias históricas pré-crise, se vê que "os longos anos de subinvestimento deixaram alguns atrasos".
"O investimento público está em alta, mas permanece baixo, acima da média de longo prazo em apenas seis países e, por outro lado, o investimento em infraestrutura ainda está cerca de 25 pct abaixo de onde estava antes da crise", afirmou.
"Em comparação com a experiência pós-crise dos EUA, a recuperação da Europa sofre de investimentos fracos".
Navarro explicou que "existe uma lacuna de investimento remanescente em activos intangíveis, incluindo R&D e em inovação e na adoção de tecnologias digitais no sector de serviços".
(Por Sérgio Gonçalves Editado por Catarina Demony)