Por Sergio Goncalves
LISBOA, 2 Jun (Reuters) - Contrariamente aos livros de gestão que dizem que a incerteza afasta investidores, a private equity portuguesa Palminvest comprou uma cadeia de hotéis de luxo em Portugal num deal multi-milionário em pleno surto de coronavírus e quer comprar mais.
Em Fevereiro, quando já havia casos suspeitos de coronavírus em Portugal, a Palminvest adquiriu uma holding empresarial que tinha a cadeia de Hotéis Real, com 10 hotéis de 5 e 4 estrelas, e outros activos de real estate por 300 milhões de euros (ME).
"O impacto do coronavírus será severo e gerará enormes perdas em todo o sector. Mas, não estamos arrependidos com esta aquisição, pelo contrário, estamos muito satisfeitos", disse Eurico Almeida, co-fundador da Palminvest e CEO da Hotéis Real.
Adiantou que a "Palminvest decidiu correr o risco de comprar, pois estudou outras pandemias - como SARS e gripe das aves - e concluiu que, mesmo que os hotéis fechassem 3 meses, 6 meses ou 1 ano, poderia gerir a situação".
O 'discounted cash flow' para avaliar a compra desta cadeia com 1.400 quartos "ficou mais 'apertado' neste período inicial, mas é um investimento para 20 anos que permitirá diluir as perdas imediatas nos anos seguintes", disse.
Fundada em 2006 por Eurico Almeida e pelo ex-Chief Operating Officer da Yahoo (NASDAQ:AABA), Henrique de Castro, a Palminvest já tinha 6 Holiday Inn Express em Portugal, 2 dos quais inaugurados em 2019, quando o sector batia recordes de turistas e receitas.
Logo após a compra dos Hotéis Real, devido à falta de voos aéreos e os lockdown em Portugal e outros países, fechou 9 hotéis e apenas manteve um hotel em Lisboa aberto, mas a ocupação caiu a pique para 10% contra mais de 85% há um ano.
O grupo vai abrir dois hotéis no Algarve em meados do mês, mas ainda não decidiu o timing de mais aberturas pois, "sem voos aéreos frequentes, não há turistas estrangeiros e os portugueses podem não ser suficientes para abrir todos este Verão".
Em 2019, mais de 16 milhões de turistas estrangeiros visitaram Portugal, quase 20% deles da Grã-Bretanha.
O Instituto Nacional de Estatística disse na sexta-feira que o número de dormidas de turistas estrangeiros em Portugal caiu 98,3% para 71 mil em Abril face ao ano anterior.
"Todo o sector em Portugal vai ter perdas de receitas superiores a 75% ou 80% este ano. Nem com 'layoffs' pagos pelo Estado, os hotéis cobrirão os custos fixos", afirmou Almeida.
Adiantou que, "para a rentabilidade dos hotéis atingir os níveis antes da pandemia, demorará 5 anos: 2 anos para resolver os problemas sanitários e mais 3 anos para retornar aos níveis anteriores de clientes e lucros".
"Nós vamos ter de trabalhar nos próximos 5 anos para conseguirmos recuperar o que vamos perder este ano", referiu.
Mas, vê "um enorme potencial a médio prazo" no sector pois a modernização de hotéis históricos, tornando-os mais sustentáveis em termos ambientais e energéticos, e a aposta na vanguarda tecnológica, permitirá atrair novos clientes e melhorar a rentabilidade.
"Estamos, neste preciso momento, a tentar adquirir mais hotéis. Queremos crescer e vamos aproveitar as oportunidades pois somos maratonistas e não corredores de 'sprint'", concluiu. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua em Lisboa)