Por Sergio Goncalves
LISBOA, 11 Fev (Reuters) - Portugal está a analisar mais de 1.000 milhões de euros (ME) de investimentos orientados para exportações para serem contratados já em 2020, projectando as autoridades um novo recorde destes projectos, apesar do Brexit e das várias incertezas globais.
Este pipeline em análise é praticamente idêntico ao máximo histórico de 1.172 ME de investimentos contratatualizados em 2019 pela AICEP, a agência estatal que promove o investimento e exportações. Em 2018, a AICEP tinha atraído 1.156 ME destes investimentos, que era um recorde e quase o dobro dos de 2017.
"Mesmo após um segundo ano seguido de recorde, já temos em Janeiro mais de 1.000 ME de investimentos candidatados e em pipeline efectivo de análise para contratualização em 2020, apesar dos vários focos de incerteza no mundo, que afectam as decisões das empresas", disse o presidente da AICEP à Reuters.
"De facto, o pipeline vivo está muito forte, o que são excelentes notícias ... e a AICEP vai continuar a angariar mais projectos para Portugal", disse o líder da agência, que apenas atrai investimentos virados para exportações, sobretudo estrangeiros.
Luís Castro Henriques afirmou que aquele pipeline para 2020 inclui 13 novos projectos industriais, com um investimento global de 737 ME, a que acrescem 10 de I&DT-Investigação & Desenvolvimento Tecnológico onde se projecta serão investidos mais um total de 276 ME.
Os projectos industriais são em sectores como automóvel, aeronáutico, farmacêutico, químico, agroalimentar e turismo, mostrando que o "país venceu a aposta na competitividade em segmentos que vão desde a indústria a serviços altamente sofisticados".
Afirmou que "o segundo semestre de 2019 foi particularmente desafiante em angariação devido aos riscos como o Brexit e à instabilidade comercial entre EUA e China", mas a agência fez "um esforço grande no fim de 2019 que está a dar bons frutos".
As exportações e o 'boom' do turismo suportaram a recuperação de Portugal face à crise da dívida e ao resgate de 2011-14, tendo depois recebido um impulso do investimento empresarial.
O Governo, que visa o primeiro excedente orçamental em 45 anos de 0,2% do PIB em 2020, prevê um crescimento de 1,9%, idêntico ao de 2019. Este crescimento é claramente superior ao da zona euro, que o Banco Central Europeu estima em 1,1%.
"A mão-de-obra qualificada aliada à estabilidade macroeconómica e à paz social faz com que Portugal hoje seja extremamente atractivo, consiga ganhar projectos relevantes".
O presidente da agência, que atribuiu incentivos fiscais e outros aos projectos angariados, disse que o investimento directo estrangeiro (IDE) cresceu 30% para 883 ME em 2019, suportando o recorde de investimento contratualizado.
Entre os investimentos captados em 2019 destacaram-se alguns em tecnologia de ponta, como os das alemãs Bosch Car Multimedia e Kirchhoff Automotive; da STELIA Aerospace, detida pela fabricante de aviões europeia Airbus AIR.PA ; e da francesa Lauak Aerostructures, fornecedora de peças para o Airbus A320.
Apesar da Alemanha, França e Espanha terem liderado os países de origem de IDE, houve "uma grande diversificação geográfica", com investimentos oriundos de países como EUA e Reino Unido, Qatar, Emirados Árabes Unidos e Japão.
Castro Henriques destacou ainda que o IDE em projectos de I&DT aumentou brutalmente o seu peso para 69% no PT2020 entre 2015 e 2019, quando tinha sido só 9% no anterior QREN 2007-14.
"O país está a atrair investimento muito melhor. Há 10 anos ninguém acreditava que Portugal atrairia projectos de I&DT das melhores empresas do mundo, mas isso hoje é a realidade", disse.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)