Investing.com – O dia foi de perdas generalizadas nos mercados mundiais e a bolsa de Lisboa não resistiu à pressão externa. À semelhança do que aconteceu com as congéneres europeias, as quebras do início da jornada agravaram-se, ainda que por cá de forma ligeiramente mais contida.
O PSI20 fechou a segunda sessão da semana nos 5.861,80 pontos, a cair 1,93%, com apenas duas cotadas no “verde”. A determinar a aversão ao risco por parte dos investidores está a tensão na Síria e os receios de uma ofensiva que inclua os Estados Unidos e os países europeus naquele Estado.
O setor financeiro foi dos que mais castigou a bolsa de Lisboa, com especial destaque para as ações do BES, que recuaram 6,11% para os 0,83 euros. BCP e BPI cederam 1,98% e 1,82% para cotar nos 0,099 euros e 0,973 euros respetivamente. A acompanhar a tendência as ações do ESFG desvalorizaram 0,38% para os 5,24 euros e os papéis do Banif acompanharam o contágio com um tombo de 8,33% para os 0,011 euros.
Não menos expressivas foram as quedas do universo Sonae. Só a casa mãe recuou 2,98% para os 0,814 euros, enquanto a Sonae Indústria cedeu 3,91% para cotar nos 0,492 euros. Também a desvalorizar, no setor das telecomunicações, a Sonaecom regrediu 0,44% para 1,81 euros. Isto depois da Autoridade da Concorrência ter aprovado a proposta de fusão entre a Optimus e a Zon Multimédia, também a depreciar 1,75% para os 4,156 euros. A Portugal Telecom liderou as perdas do setor com um tombo de 3% para os 2,817 euros.
O peso pesado Jerónimo Martins manteve-se em terreno negativo ao longo de toda a sessão terminando com uma queda de 1,43% para os 15,2 euros por ação. Desempenho idêntico teve a Mota-Engil. Ontem a empresa anunciou que ganhou projetos no valor de 400 milhões de euros na América Latina, mas a notícia parece não ter sido suficientemente forte para corrigir as perdas de 0,41% nos 2,662 euros. Esta quinta-feira, 29 de agosto, a empresa apresenta os resultados referentes ao primeiro semestre do ano.
No setor energético, a pressão fez-se igualmente sentir. Só a Galp recuou 1,56% para os 12,62 euros. EDP e a subsidiária EDP Renováveis cederam 0,56% e 1,69% para cotar nos 2,675 euros e 3,73 euros respetivamente.
Em Lisboa, só a Ren e a Portucel se mantiveram em terreno positivo.
Lá fora o índice Eurostoxx 50, que reúne a principais empresas da zona euro, desvalorizou 2,56% para os 2.749,27 pontos.
As notícias vindas da Alemanha sobre o sentimento dos empresários pouco impacto tiveram junto dos investidores europeus. De acordo com o Instituto alemão de Investigação Económica (Ifo), em agosto a confiança empresarial subiu pelo quarto mês consecutivo, aumentando dos 106,2 pontos registados no mês anterior para os 107, 5 pontos. Se a leitura positiva poderia ser um sinal adicional de que a zona euro está a sair da recessão, ainda assim, a pressão vendedora manteve-se.
Frankfurt perdeu 2,28%, mas não menos expressivo tombo de 4,08% registado na praça de Atenas. Isto numa altura em que ganha consistência a possibilidade do país vir a necessitar de um novo pacote de ajuda financeira no próximo ano, a rondar os 10 mil milhões de euros. A edição de hoje do jornal sensacionalista “Bild” cita Carsten Schneider, do principal partido da oposição, que refere a existência de um relatório da “troika”, ainda por divulgar, segundo o qual as necessidades de financiamento da Grécia até 2020 superam os 70 mil milhões de euros. A crise helénica está na ordem do dia numa altura em que se aproximam as eleições legislativas na Alemanha.
Itália também esteve sob forte pressão, perante o cenário de uma crise política que ameaça o frágil Governo de Enrico Letta. Os apoiantes de Silvio Berlusconi, condenado por fraude fiscal, ameaçam abandonar o executivo se o Partido Democrático do primeiro-ministro votar a favor da expulsão do antigo chefe de Governo do Senado. O MIB recuou 2,34% em linha com a queda de 2,42% do CAC francês.
Os tons de “vermelho” dominaram também na praça madrilena, com o IBEX a recuar 2,96%. Ainda assim, o Tesouro Público espanhol conseguiu hoje colocar 4.166,7 milhões de euros em títulos a 3 e 9 meses, ligeiramente acima do objetivo e pagando juros menores do que no leilão anterior equivalente. Londres depreciou 0,79%.
Tudo indica que poderá estar para breve uma intervenção militar em Damasco. Se por um lado o secretário de Estado norte-americano John Kerry garantiu não ter dúvidas sobre a utilização de armas químicas na Síria na semana passada, por outro um porta-voz do primeiro-ministro britânico admitiu que Londres poderá participar numa “resposta proporcional.” De acordo com o “The Guardian”, David Cameron agendou uma sessão extraordinária no Parlamento para a próxima quinta-feira, dia 29.
A queda no valor das ações fez-se por isso mesmo sentir também do lado de lá do Atlântico. Wall Street acordou no “vermelho”, numa altura em que a Síria ameaçou também retaliar qualquer ofensiva.
O índice industrial Dow Jones continuava a recuar, 0,67%, e o tecnológico Nasdaq 1,13%. O S&P 500 regredia 0,99%. Os sinais positivos em relação ao nível de confiança dos consumidores parecem não ser suficientes para inverter este rumo.
O índice do Conference Board subiu para 81,5 em agosto face à leitura de 81 verificada no mês anterior. A evolução surpreendeu o mercado. Também hoje se soube que os preços das casas nos EUA aumentaram a um ritmo mais lento no mês de junho, um sinal de arrefecimento do mercado imobiliário. O índice S&P/Case-Shiller subiu 12,1% no último ano até junho, um valor em linha com as projeções dos analistas.