Por Sergio Goncalves
LISBOA, 22 Nov (Reuters) - O presidente angolano, João Lourenço, disse que não vai recuar no combate à corrupção em Angola e avisou que nenhum corrupto, por mais recursos que tenha, conseguirá enfrentar a determinação dos 28 milhões de cidadãos do país africano.
"Quando nos propusemos combater a corrupção em Angola tinhamos a noção que precisávamos de ter muita corragem. Sabíamos que estávamos a mexer num ninho de marimbondo (vespa) (...) e que podíamos ser picados", disse João Lourenço, em conferência de imprensa, numa visita de Estado a Portugal.
"Já começámos a sentir as picadelas, mas isso não nos vai matar, não é por isso que vamos recuar (...) Que ninguém pense que, por muitos recursos que tenha de todo o tipo, consegue enfrentar os milhões que somos (angolanos)", disse João Lourenço, tendo a seu lado o presidente português.
Este general na reserva, de 63 anos, tomou posse em Setembro de 2017, substituindo José Eduardo dos Santos, que governou o país durante 38 anos.
João Lourenço tem feito do combate à corrupção uma bandeira da sua governação, tendo distituído do cargo de presidente da Sonangol a empresária Isabel dos Santos - a filha do ex-presidente que é a mulher mais rica de África segundo a Forbes -, estando o seu irmão José Filomeno dos Santos, ex-presidente do Fundo Soberano de Angola, em prisão preventiva.
A Procuradoria Geral da República angolana suspeita que José Filomeno dos Santos tenha cometido um crime de burla de 500 milhões de dólares relativo a uma transferência irregular do Estado angolano para um banco britânico, ligado ao Fundo Soberano de Angola.
Isabel dos Santos tem importantes interesses em Portugal, nomeadamente participações importantes na Galp Energia GALP.LS , na NOS NOS.LS , no Banco BIC Português, na Efacec.
O novo presidente de Angola aprovou um regime que permitirá confiscar, a partir de Janeiro de 2019, de forma coerciva os "bens incongruentes" de angolanos domiciliados no exterior do país.
"Se estamos a brincar com o fogo, temos a noção das consequências desta brincadeira. O fogo queima, o importante é mantê-lo sob controlo, não deixar que ele se alastre e acabe por se transformar num grande incêndio. É preciso destruir esse ninho de marimbondo", disse o presidente de Angola.
"Quantos marimbondos existem nesse ninho? Devo dizer não são muitos. Angola tem 28 milhões de habitantes e não há 28 milhões de corruptos. O número é bastante reduzido. Somos milhões e contra milhões ninguém combate".
Avisou: "Portanto, não temos medo de brincar com o fogo. Vamos continuar a brincar com ele, com a noção que vamos mantê-lo sempre sob controle".
O presidente da República portuguesa referiu que "Portugal não vai pronunciar-se sobre questões internas do Estado angolano, mas na medida em que possa haver repercursões no relacionamento entre as duas economias, entre os dois Estados, essa questão não deixará de ser acompanhada atentamente".
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)