(Repete notícia divulgada ontem ao final da tarde)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 9 Fev (Reuters) - O Caixabank CABK.MC concluiu com sucesso o 'takeover' sobre o BPI BBPI.LS e passou a controlar 84,52 pct do segundo maior banco cotado de Portugal, dando a este estabilidade accionista, dimensão e músculo de capital para a sua expansão e crescimento, disse o Chief Executive Officer (CEO) do Caixabank.
Gonzalo Gortázar adiantou que esta compra de controlo - a primeira de uma entidade de primeira linha fora de Espanha - "corresponde a uma operação com muita lógica financeira: trata-se de entidades que se complementam perfeitamente".
"O Caixabank proporciona estabilidade accionista, dimensão e capital para a expansão e melhores condições de 'rating', que pressupõe maior e melhor acesso a financiamento", disse o CEO do Caixabank em conferência de imprensa.
"A prioridade é manter e reforçar o crescimento do banco (...) fazer crescer quotas (de mercado)", disse, referindo que vai estar totalmente focado no crescimento orgânico, embora seja sua obrigação estudar qualquer oportunidade que eventualmente apareça.
Adiantou que "o BPI é uma entidade bancária excelente, num mercado com potencial", sendo uma entidade "bem gerida, sólida, com um bom 'track record'", frisando:
"Estamos satisfeitos de ter concluido a OPA com sucesso e um nível de aceitação muito elevado (...) o Caixabank reforça a sua aposta no mercado português. Posiciona-nos como um player destacado do sector financeiro português", adiantou.
Nesta Oferta Pública de Aquisição (OPA) geral sobre o BPI, do qual já era o maior accionista com 45,5 pct, o banco espanhol tinha estabelecido como condição de eficácia da OPA a obtenção de mais de 50 pct do capital do BPI.
Pedro Wilton, responsável do 'listing' da Euronext Lisbon referiu que, após o resultado desta oferta, o Caixabank passa a deter 84,52 pct dos direitos de voto do BPI", adiantando que "é intenção do oferente manter as acções da visada admitidas em mercado regulamentado na sequência da oferta".
O parceiro histórico do BPI, a alemã Allianz (DE:ALVG), vai manter-se com a sua posição superior a oito pct.
Fernando Ulrich, CEO do BPI, frisou que esta "foi uma OPA em família", avisando: "integrado no maior grupo financeiro da Península Ibérica, o BPI vai ter ainda mais capacidade para ser um actor forte".
O CEO do BPI vai passar a 'chairman' e Pablo Forero, actual director geral do Caixabank, passar a ocupar o lugar de CEO.
"A operação ocorreu em termos absolutamente normais e neste sentido consideramos que foi bem sucedida", disse a Presidente da CMVM, Maria João carioca.
"Aquilo que é o funcionamento do mercado também está destinado a permitir às empresas que tomem as decisões que entendem ser as mais adequadas ao seu desenvolvimento e à sua sustentabilidade a prazo. Nesse sentido, esta é uma operação para a qual nós olhamos com normalidade", adiantou.
Frisou que, enquanto operador de mercado, a preocupação da Euronext Lisbon "é garantir que estas operações decorrem nas circunstâncias possíveis, facilitá-las, e que não têm qualquer impedimento dentro daquilo que são os requisitos que estão obrigadas a cumprir".
"É uma operação que correu bem, serve os propósitos que têm a ver com as estratégias corporativas das entidades envolvidas e nós não nos pronunciaremos sobre essas estratégias".
A Euronext Lisbon referiu que a decisão sobre se o BPI sairá, ou não, do índice PSI20 deverá ser anunciado até ao final do dia de hoje.
DESDE HÁ MUITO
Desde há cerca de dois anos que o Caixabank tentava controlar o BPI, mas teve sempre a feroz oposição da segunda maior accionista, a empresária angolana Isabel dos Santos, que, contudo, acabou agora por vender os 18,6 pct directos que detinha.
Isabel dos Santos, através do banco BIC, tinha mais 2,28 pct do BPI.
A mudança de posição da filha do presidente de Angola, seguiu-se ao acordo firmado com o BPI para a telecom angolana Unitel ficar com o controlo do Banco de Fomento Angola (BFA).
O BPI vendeu dois pct do BFA à Unitel - que tem Isabel dos Santos como accionista-chave - e esta telecom passou a controlar 51,9 pct, enquanto o banco português reduziu para 48,1 pct e passou a cumprir a exigência do Banco Central Europeu (BCE) que reduzisse a exposição excessiva àquele país africano.
Desde Dezembro de 2014, o BCE vinha exigindo ao BPI que reduzisse a sobre-exposição aos riscos de Angola, país que as autoridades europeias deixaram de considerar ter a mesma equivalência de supervisão. Tal implicou passar a ponderar aquele risco a 100 pct, quando antes o BPI tinha apenas de provisionar entre zero pct e 20 pct da exposição.
SINERGIAS
O Caixabank prevê uma redução de custos de 84 milhões de euros (ME) por ano resultante de sinergias com a integração do BPI, que incluirão 45 ME relativas a despesas com pessoal e envolverão a saída de cerca de 900 colaboradores. O banco espanhol estima sinergias de receitas da ordem dos 35 ME antes de impostos.
Gonzalo Gortázar referiu que o Caixabank vai estar focado a executar o plano traçado para três anos, não pensar para além disso.
"Está previsto manter o banco com estrutura portuguesa e o centro de decisão no território", disse, realçando ainda o valor da marca BPI.
O lucro do BPI disparou 32,5 pct em 2016 para 313,2 milhões de euros (ME), suportado no robusto aumento da margem financeira e na descida das imparidades de crédito malparado.
A actividade doméstica teve um contributo de 147 ME para o resultado, mais 58 pct que em 2015; enquanto a área internacional, na qual se destaca o Banco de Fomento Angola (BFA), contribuiu com 166,3 ME, mais 23 ME que em 2015.
O Return on Equity (ROE) consolidado fixou-se em 13,4 pct, com a actividade doméstica a ter uma rentabilidade dos capitais próprios de somente 7,7 pct, enquanto o BFA teve um ROE de 41,4 pct.
O rácio 'Common Equity Tier 1' (CET1) 'phased in' situou-se em 11,4 pct no final de 2016 e o CET1 'fully implemented' em 11,1 pct, contra 9,8 pct há um ano atrás.
Para atingir um rácio de capital total de 12 pct - que decorre do mínimo SREP de 11,75 pct acrescido de buffer de 0,25 pct - o BPI prevê fazer uma emissão de dívida subordinada no valor de, pelo menos, 225 ME.
"O Caixabank está disponível para subscrever esta dívida", disse Gonzalo Gortázar, lembrando que terá de ser condições de mercado. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)