(Texto atualizado com mais informações)
Por José de Castro
SÃO PAULO, 23 Fev (Reuters) - O dólar fechou em leve queda nesta terça-feira, mas não sem oscilar entre ganhos e perdas mais elásticos, com investidores ainda ressabiados com o futuro da agenda liberal após entendimento de ingerência do governo em estatais.
A queda veio na reta final dos negócios, enquanto o presidente Jair Bolsonaro aproveitava solenidade no Palácio do Planalto com prefeitos para fazer afagos ao ministro da Economia, Paulo Guedes. moeda negociada no mercado à vista BRBY caiu 0,17%, a 5,4456 reais na venda. Ao longo da jornada, variou entre 5,485 reais (+0,55%) e 5,4089 reais (-0,85%).
De forma geral, o câmbio acompanhou a melhora no sinal de moedas emergentes no exterior, na esteira do alívio nas taxas de retorno dos títulos soberanos dos Estados Unidos 0#USBMK= , após declarações do chair do Federal Reserve (banco central dos EUA), Jerome Powell. queda dos rendimentos dos Treasuries reduz o diferencial de juros a favor do dólar, tirando atratividade da moeda norte-americana e aumentando o interesse por ativos mais arriscados, como moedas emergentes .MIEM00000CUS e ações .MIWD00000PUS .
Mas o mercado cambial seguiu atento ao noticiário sobre o governo e tentativas de interferência em empresas estatais, bem como movimentações em torno da agenda de reformas e do auxílio emergencial.
O presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), prometeu um andamento "sumaríssimo" para a chamada PEC Emergencial na Casa assim que ela for enviada pelo Senado. Guedes cancelou em cima da hora participação em evento internacional virtual para se reunir com Lira e tratar da agenda fiscal do governo. falou muito bem. Parecia até o Paulo Guedes, só que político", comentou um gestor.
Além disso, o mercado gostou da notícia de que o governo trabalha para publicar ainda nesta terça-feira medida provisória associada a seus planos de privatização da Eletrobras (SA:ELET3) ELET6.SA , informação revelada à Reuters por três fontes com conhecimento do assunto. segunda-feira, o dólar saltou 1,31%, depois de declarações do presidente Jair Bolsonaro e sua decisão de trocar o comando da Petrobras PETR3.SA PETR4.SA alimentarem rumores sobre uma virada na política econômica e temores sobre como Guedes --ainda visto como fiador da agenda de reformas econômicas e de equilíbrio fiscal-- reagiria às mudanças.
"Uma saída de Guedes consolidaria uma guinada rumo ao populismo econômico. Acho que o impacto (nos mercados) seria bem maior do que o que a gente viu ontem", disse Sergio Goldenstein, consultor independente, estrategista na Omninvest Independent Insights e ex-chefe do Departamento de Operações de Mercado Aberto do Banco Central.
Nesse contexto, o problema fiscal --considerado por analistas de mercado o mais grave que o país enfrenta-- está por trás da volatilidade do câmbio e agora exige que o BC comece a subir os juros, de acordo com Marcos Mollica, gestor de fundos multimercados do Opportunity.
"Não tinha nada errado com a política monetária. A volatilidade do câmbio vinha do fiscal. O erro foi não dar sinais claros de volta ao caminho da austeridade", disse Mollica, acreditando que o Copom deveria subir os juros na reunião de março e ao ritmo de 50 pontos-base.
Alguns no mercado defendem que o patamar baixo da Selic estaria relacionado à maior volatilidade nos preços do dólar, por deixar o juro real negativo e, assim, facilitar o uso da moeda brasileira como ativo de financiamento e "hedge". (Edição de Isabel Versiani)