Short squeeze, gama squeeze, hedge funds, venda a descoberto, opções de compra e venda, contas margem, cobertura de posições, e poderia continuar por aqui a fora com algum do jargão financeiro que mais se ouviu e leu nos últimos dias.
Um conjunto de pequenos investidores de um grupo do Reddit (r/Wallstreetbets) conseguiu colocar a empresa norte-americana de retalho de videojogos, GameStop, nas bocas do mundo. E sabemos que o mediatismo atingiu o seu expoente quando o tema vira conversa de café, e chega aos media não especializados, como algo fun de um grupo de pequenos investidores na internet que resolveram fazer frente aos gigantes de Wall Street.
Independentemente das posições que se possam tomar nesta história, que já mereceu inclusivamente a atenção da Netflix (NASDAQ:NFLX), há uma reflexão que merece ser feita e que não posso deixar passar: a importância da literacia financeira.
Há vários anos que trabalho em prol de mais e melhor educação financeira e, da minha experiência no terreno, posso afirmar que 15 anos depois estamos ligeiramente melhor, mas ainda há um enorme caminho a percorrer, sobretudo no que diz respeito aos investimentos. Antes mesmo de entrar por estes termos mais técnicos é necessário compreender as bases. Movidos pelo entusiasmo, e pelo FOMO (Fear of Missing Out, ou o Medo de Perder a Oportunidade), há pequenos aforradores que querem saltar etapas no processo de aprendizagem sem perceber que nenhuma casa se constrói sem boas fundações.
Durante muito tempo, o setor financeiro viveu bem com esta assimetria de informação e conhecimento, seja porque as pessoas simplesmente confiavam no que lhes era sugerido sem contestar, seja porque elas próprias não se interessavam por estes assuntos. No entanto, as crises recentes, a par dos escândalos financeiros protagonizados nos últimos anos, levaram à quebra do elo mais importante entre pequenos investidores e instituições financeiras: a confiança.
Este cenário levou a que os Millennials, e também a geração Z, assumissem as próprias escolhas financeiras, ainda que o nível de literacia financeira também seja baixo, conforme revelam os dados de um estudo do MoneyLab que envolveu mais de 4000 jovens em Portugal.
Para estes investidores, a digitalização dos serviços financeiros e aparecimento de novas fintech, transformou a entrada no mercado de capitais num processo mais apelativo. Claro que não é possível ignorar o ambiente de taxas de juro zero que também tem fomentado uma maior procura de risco.
Mas é exatamente neste ambiente que a educação e literacia financeira se tornam ainda mais essenciais. Não basta “gamificar” as aplicações para as tornar atrativas, não basta simplificar os processos. É preciso explicar e compreender os investimentos. Tudo com clareza e transparência.
Benjamin Franklin dizia: “investir em conhecimento rende sempre os melhores juros”. Eu resumiria como: “investir na literacia financeira é o melhor investimento”.