A chegada de Mario Draghi, empossado como primeiro-ministro italiano em 13 de fevereiro, oferece uma nova esperança de cura para o país que tem sido apelidado de “doente europeu”. Vinte e três ministros, entre os quais reconhecidos técnicos que vão assumir pastas importantes como a Economia, Interior ou Transição Energética, tomaram também posse. Isto acontece numa altura em que, com a saída do Reino Unido, Itália passa a ter a terceira maior economia da Europa.
O currículo
O agora primeiro-ministro transalpino foi presidente do Banco de Itália entre 2006 e 2011 e presidente do Banco Central Europeu (BCE) entre 2011 e 2019. Foi nesta função que Draghi desempenhou um papel vital na defesa da Zona Euro durante a crise das dívidas soberanas que ameaçou seriamente o projeto da moeda única.
O ex-chefe do Banco Central Europeu, é o mais recente numa longa linha de tecnocratas a tornarem-se primeiros-ministros. Facto que geralmente traz desvantagens dado que os tecnocratas não costumam ser bons comunicadores e são alvo a abater pelos populistas que se apressarão a erguer teorias da conspiração sobre as elites quererem derrubar as massas. O facto de ser um ex-banqueiro internacional ajuda a criar este rótulo.
No entanto, Mario Draghi é mais do que apenas um tecnocrata, uma vez que tem reconhecidas habilidades políticas e diplomáticas. Qualidades que ficaram bem vincadas quando, há cerca de uma década, salvou a zona euro.
O cenário italiano
Conhecida por ser um dos piores países para fazer negócios devido ao duvidoso sistema judicial, ao sistema de impostos que dificulta a criação de empregos e à grande diferença estrutural entre o norte e o sul, a Itália está a sofrer com os efeitos da pandemia.
O desemprego voltou a crescer, atingindo os 9% no final do ano passado, bem acima da média da Zona Euro. Entre os mais jovens, a taxa é de quase 30%. Por outro lado, com a dívida pública a atingir uns preocupantes 157,2% do PIB no final deste ano (1,6 biliões de euros), mais 37,5 pontos percentuais face a 2011.
O impacto na Europa
O que está a acontecer na Itália por estes dias tem consequências que transcendem em muito as fronteiras daquele país. Após a anunciada saída de Angela Merkel, havia um défice de pesos pesados na política da União Europeia.
Um dos principais objetivos de Draghi será organizar o país para receber cerca de 200 mil milhões de euros em empréstimos e subvenções disponíveis no âmbito do fundo de recuperação de 750 mil milhões de euros para o combate à pandemia na União Europeia.
Apesar de ser uma figura respeitada e com reconhecido talento, será de esperar algum ceticismo similar ao que teve de enfrentar quando foi nomeado para presidente do BCE. Na altura, o jornal alemão Bild não poupou no estereótipo italiano para mostrar ceticismo que Draghi soube contrariar: “Mamma mia! Para os italianos, a inflação é um estilo de vida, como é o spaghetti com molho de tomate”.
Dez anos depois, está de regresso para acabar com a sombra económica que paira sob Itália. Se Super Mario não conseguir melhorar a economia italiana, talvez ninguém consiga!