Os critérios de concessão de crédito – ou seja, as diretrizes internas ou critérios de aprovação de empréstimos dos bancos – tornaram-se mais restritivos em todas as categorias de empréstimos, nomeadamente empréstimos às empresas, empréstimos às famílias para aquisição de habitação e crédito ao consumo e outros empréstimos às famílias no quarto trimestre de 2020, de acordo com o inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito realizado em janeiro de 2021. A percentagem líquida de bancos que reportaram uma maior restritividade dos critérios de concessão de crédito aplicados aos empréstimos ou linhas de crédito a empresas (percentagem líquida de bancos de 25%, ver Gráfico 1) foi ligeiramente mais elevada do que na ronda anterior. A restritividade dos critérios de concessão de crédito aplicados aos empréstimos às famílias também aumentou (com uma percentagem líquida de 7% nos empréstimos às famílias para aquisição de habitação e de 3% no crédito ao consumo e outros empréstimos às famílias), mas a um ritmo mais lento do que nos trimestres anteriores de 2020. Os bancos apontaram uma deterioração das perspetivas económicas gerais, o aumento do risco de crédito dos mutuários e uma menor tolerância ao risco como fatores relevantes para a maior restritividade dos critérios de concessão de crédito aplicados aos empréstimos às empresas e às famílias. No primeiro trimestre de 2021, os bancos preveem que a restritividade dos critérios de concessão se mantenha nos empréstimos às empresas e às famílias.
A restritividade dos termos e condições gerais dos bancos (ou seja, os termos e condições efetivos subjacentes à contratação de crédito) aplicados aos novos empréstimos às empresas aumentou no quarto trimestre de 2020, com requisitos de garantia mais rigorosos e margens dos empréstimos mais amplas, especialmente para os empréstimos de maior risco. A restritividade dos termos e condições gerais dos bancos para os empréstimos às famílias para aquisição de habitação também aumentou no quarto trimestre de 2020.
A procura de empréstimos e o recurso a linhas de crédito pelas empresas voltaram a descer em termos líquidos no quarto trimestre de 2020, com uma maior percentagem de bancos a indicarem uma descida ao invés de um aumento da procura de empréstimos pelas empresas. A procura de existências e fundos de maneio continuou a contribuir para um aumento da procura, embora com um menor contributo positivo do que no primeiro semestre de 2020, o que pode ser explicado pelas reservas de liquidez constituídas por razões de precaução nos trimestres anteriores. A procura de empréstimos para investimento fixo diminuiu pelo quarto trimestre consecutivo (ver Gráfico 2). Em termos líquidos, a procura de empréstimos para aquisição de habitação continuou a aumentar no quarto trimestre de 2020, refletindo uma recuperação da procura após o primeiro período de confinamento no segundo trimestre. Para o crédito ao consumo e outros empréstimos às famílias, uma percentagem líquida de bancos reportou uma diminuição da procura, após um aumento moderado no trimestre anterior. A procura líquida de empréstimos para aquisição de habitação e de crédito ao consumo foi suportada pelo nível geral baixo das taxas de juro, enquanto a menor confiança dos consumidores continuou a atenuar a procura. No primeiro trimestre de 2021, os bancos esperam um aumento da procura líquida de empréstimos às empresas e de crédito ao consumo e uma descida da procura líquida de empréstimos para aquisição de habitação.
Os bancos da área do euro indicaram que medidas de supervisão e regulamentares continuaram a reforçar a posição de capital dos bancos, com um forte impacto de redução da restritividade das respetivas condições de financiamento em 2020. Os bancos também reportaram que as medidas de supervisão e regulamentares continuaram a ter um impacto restritivo líquido nos critérios de concessão de crédito em todas as categorias de empréstimos.
Os bancos da área do euro reportaram que os créditos não produtivos (non-performing loans – NPL) tiveram um impacto restritivo nos critérios de concessão de crédito e nos termos e condições aplicados aos empréstimos às empresas e ao crédito ao consumo no segundo semestre de 2020 (e um impacto globalmente neutro no que respeita aos empréstimos para aquisição de habitação). A perceção dos riscos e a aversão ao risco foram os principais responsáveis pelo impacto restritivo dos rácios de NPL.
Analisando uma desagregação por setor, os bancos participantes indicaram uma maior restritividade líquida dos critérios aplicados à concessão de empréstimos às empresas em todos os principais setores da atividade económica na segunda metade de 2020. A maior restritividade líquida foi mais pronunciada nos empréstimos às empresas nos setores do imobiliário comercial e do comércio por grosso e a retalho.
Segundo os bancos, as garantias estatais relacionadas com o coronavírus (COVID-19) apoiaram os critérios de concessão de crédito e ajudaram a manter os termos e condições dos empréstimos às empresas mais favoráveis em 2020. Os bancos indicaram igualmente um aumento líquido muito forte da procura de empréstimos ou linhas de crédito com garantias estatais na primeira metade de 2020. Por outro lado, o aumento líquido na segunda metade foi moderado, refletindo uma redução das necessidades de liquidez.
O inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito na área do euro, realizado quatro vezes por ano, foi desenvolvido pelo Eurosistema com o objetivo de melhorar a compreensão sobre o comportamento do crédito bancário na área do euro. Os resultados do inquérito realizado em janeiro de 2021 referem-se a alterações no quarto trimestre de 2020 e a expetativas de alterações no primeiro trimestre de 2021, salvo indicação em contrário. A ronda do inquérito aos bancos sobre o mercado de crédito realizada em janeiro de 2021 ocorreu entre 4 e 29 de dezembro de 2020. No total, 143 bancos participaram nesta ronda do inquérito, com uma taxa de resposta de 100%.