Quem me conhece pessoalmente sabe que eu tenho uma grande esperança no potencial de crescimento da nanotecnologia. Crença suportada em grande parte por dados científicos, algumas questões pessoais à mistura. O que me parece certo é a capacidade que esta "já não tão nova" área do conhecimento terá para revolucionar o mundo tal como o conhecemos.
A nanotecnologia é o estudo de manipulação da matéria a uma escala atómica e molecular. O seu princípio passa pela construção de novas estruturas e materiais tendo por base a manipulação e o arranjo dos átomos. Esse arranjo atómico permite gerar coisas com as quais até há pouco tempo apenas podíamos sonhar! Toda a engenharia de materiais está a ser reinventada, e com ela a medicina, a mecânica, a física, a informática, entre outras. Se olharmos em redor podemos já observar algumas das pegadas desta revolução, seja pelas superfícies auto-laváveis, pensos anti-bacterianos, quimioterapia por administração personalizada a células tumorais, ecrãs flexíveis, compósitos impermeáveis, janelas inteligentes, entre milhares de outras aplicações.
Sempre que uma nova revolução económica pode estar para acontecer podemos adoptar uma de três posturas de investimento: ou a ignoramos e deixamos acontecer, ou esperamos que o fenómeno amadureca o suficiente para se tornar um investimento seguro, ou arriscamos um investimento na sua fase inicial.
Apesar de já não se poder considerar que esta área económica esteja na sua fase inicial, também não seria rigoroso considerá-la como um negócio amadurecido. Grande parte das potenciais oportunidades estarão ainda bem escondidas, fruto do enorme desconhecimento no que diz respeito à nanotecnologia. Para se ter uma ideia mais concreta, através de um inquérito realizado há relativamente pouco tempo verificou-se que metade dos americanos nunca tinha ouvido falar em nanotecnologia, e 90% dos inquiridos tinha um conhecimento sobre o tema muito limitado.
Como em todas as revoluções económicas, são as evidências que dão notoriedade e chama ascendente ao desconhecido. Se os resultados materiais se continuarem a evidenciar, é bastante provável que a nanotecnologia vire moda. E, como bem sabe qualquer interveniente nos mercados financeiros, as modas podem ser muito benéficas para o nosso portfolio.
Infelizmente, é inevitável que surjam flops, falências e empresas que nunca vão singrar. Como é habitual, os instrumentos mais arriscados têm maior potencial de lucro e os mais seguros têm menor potencial. A escolha do "cavalo certo" é muitas vezes complexa e um pouco abstracta, quando as evidências ainda não abundam. A minha expectativa é começar por algum lado nesta selva de potenciais oportunidade. Assim, vou abordar quatro exemplos de investimento nesta área, com um nível de risco progressivamente maior.
A forma mais segura de investir neste sector de forma diversificada será muito provavelmente através de um ETF sob o índice de Nanotecnológicas. O único ETF que faz este acompanhamento é o Lux Nanotech Portfolio (PXN). É um ETF relativamente interessante, com uma despesa de manutenção de 0,6%, e a diversificação necessária para limitar o risco do investimento. O principal ponto negativo deste ETF passará pela sua alocação de capital.
Se preferirmos uma escolha mais personalizada das empresas nanotecnológicas com maior potencial poderemos optar por uma venture capitalist, como o Harris & Harris Group (TINY). Apesar de esta companhia nem sempre se ter dedicado à selecção e compra de empresas deste sector, fá-lo já há alguns anos. Ultimamente teve acertos consideráveis, como a participação na Xradia e na Solazyme, mas também teve negócios que resultaram em forte prejuízo. Essas compras menos boas levaram a alguma descrença por parte dos investidores, transaccionando actualmente a um prémio considerável face ao NAV. Apesar desta descrença por parte do mercado, a TINY parece-me ser uma boa aposta de longo prazo. E esta boa aposta poder-se-à já começar a verificar 2014 se, como se espera, a empresa começar a distribuir dividendos, atraindo assim o interesse de mais investidores.
Caso o nosso interesse passe pela aposta em empresas individuais, poderemos escolher organizações que estejam já totalmente estabelecidas e beneficiem fortemente das mais-valias da nanotecnologia nos seus produtou ou pequenas empresas totalmente focadas nesta área de negócio e que se dediquem sobretudo à investigação e desenvolvimento de produtos inovadores nesta área. Escolhi para esse efeito a Sandisk e a Applied Nanotech.
A Sandisk (SNDK) é uma empresa que se dedica sobretudo ao armazenamento físico de informação, desenvolvem pendrives, micro SD, discos rígidos e afins. O trabalho notório na área do armazenamento e transferência de informação para as massas permitiu-lhes atingir a posição de liderança neste sector do mercado, muito por culpa da nanotecnologia. Nos últimos anos a Sandisk tem apostado fortemente neste sector e isso tem contribuído para revolucionar o armazenamento portátil. Hoje a Sandisk produz os seus dispositivos com base em chips monolíticos de 19 nanómetros, o que lhes permite aglomerar informação numa correspondência de dois bits por célula! Este salto dado pela Sandisk permitiu-lhe aumentar a capacidade e a velocidade de transferência, o que foi fundamental para o destaque que alguns dos seus produtos têm tomado no mercado.
A Applied Nanotech (APNT) é uma micro cap, penny stock, mas que conta com um impressionante portfolio de patentes na área de nanotecnologia. Vive actualmente dias difíceis em termos financeiros, já que continua a debater-se para gerar receitas que lhe permitam ultrapassar os custos operacionais. Em maio o board de directores despediu o CEO, o que fez afundar as cotações mais de 50% em poucos meses. Esta medida, associada a outras medidas de corte de despesa e a um aumento na geração de receitas terão contribuido para um equilíbrio nas contas que lhe permitirá provavelmente atingir o break-even já em 2014.
É, sem dúvida, a aposta mais arrojada já que o risco de falência (ou pelo menos de aumento de capital) numa empresa desta dimensão é muito importante. Mas a enorme quantidade de patentes (mais de 300, grande parte comercializável e potencialmente lucrativa) que têm em carteira faz-me acreditar que em breve poderão ser comprados por uma empresa de maior dimensão. Em alternativa, poderá assistir-se a um licenciamento progressivo das patentes já desenvolvidas, à semelhança do que tem acontecido com a sua actual base de sustento financeiro, um produto que aumenta a performance dos painéis solares. Se o cenário mais negro não se vier a confirmar, é muito provável que se transforme numa multibagger nos próximos anos.
Como salientei no início, apesar de estar totalmente confiante no que diz respeito ao potencial de crescimento deste sector estou longe de saber que empresas singrarão o suficiente para se tornarem altamente lucrativas. Alguma diversificação aliada a apostas individuais em empresas altamente promissoras poderá dar grandes frutos, especialmente se tivermos como horizonte temporal de referência um período mínimo de 5-10 anos, tempo suficiente no meu entender para atingirmos a fase inicial de maturação deste sector.