Por Shrikesh Laxmidas
LISBOA, 3 Out (Reuters) - O Governo, os empresários e o sistema financeiro têm de inverter o 'emagrecimento' do mercado de capitais para ajudar na crucial tarefa de recapitalizar as empresas, reduzir o risco de crédito e dar competitividade à economia, urgiu o Presidente da Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).
"Hoje, recapitalizar as empresas é uma necessidade absoluta das empresas, dos bancos e do país", disse Carlos Tavares aos jornalistas, adiantando que "estamos numa conjugação de circunstâncias que todas apontam na mesma direcção".
"As empresas porque não podem comportar mais endividamento e porque, não vão conseguir investir se não tiverem mais capital e menos dívida", acrescentou.
Explicou que os bancos terão menor risco de crédito e poderão recuperar o crédito de forma mais fácil se as empresas estiverem mais bem capitalizadas.
"O país precisa criticamente de investimento e o investimento tem de ser feito por empresas bem-capitalizadas para aumentar a competitividade das empresas e da economia", vincou.
"Eu espero muito que esta conjugação de circunstâncias - e penso há algumas iniciativas no sentido de recapitalizar as empresas - pela acção do legislador, pela acção das empresas, e pela acção do sistema financeiro, que finalmente se inverta esta tendência que tem sido de estreitamento insuportável do mercado de capitais".
ACIDENTES?
Tavares tem lamentado a queda do número de cotadas, o menor peso da capitalização bolsista no PIB, da concentração significativa de liquidez de acções em apenas 10 títulos e a escassez de ofertas iniciais nos últimos anos.
"Quando, já lá vão onze anos, entrei na CMVM, fizemos várias propostas para dinamizar o mercado, procurando colmatar precisamente essa falha que entendo que é a falta de financiamento de meios alternativos para as empresas", disse.
Explicou que, na altura, o tema não era muito sensível, porque o acesso ao crédito era mais fácil.
"Hoje as circunstâncias mudaram e hoje as próprias empresas percebem que precisam de meios alternativos de financiamento, precisam de um mercado a funcionar onde elas possam recorrer," adiantou.
"Infelizmente, aquilo que aconteceu no nosso mercado nos últimos anos não ajudou, porque a maior parte dos grandes emitentes teve problemas graves, problemas comportamentais graves, não foram simplesmente acidentes do mercado".
Tavares frisou que isso "retirou emitentes do mercado por esse facto, e depois retirou alguma credibilidade ao mercado que é preciso restaurar".
Duas cotadas do sector financeiro, o Banco Espiríto Santo e o Banif, saíram da Bolsa nos últimos dois após injecções de capital pelo Estado.
O Governador do Banco de Portugal referiu hoje que o banco central terem garantido a confiança no sistema finaceiros do país apesar dos 'acidentes' dos últimos anos.
(Editado por Daniel Alvarenga)