Por Sergio Goncalves e Catarina Demony
LISBOA, 13 Abr (Reuters) - O pacote de 500 milhões de euros (ME) acordado na semana passada pelos ministros das Finanças do euro para estancar a hecatombe económica devido o surto de coronavírus é apenas o início e mais medidas serão necessárias, disse Mário Centeno, presidente do Eurogrupo.
"Este não é o fim da linha, temos mais a fazer pela Europa e vamos fazer mais pela Europa", disse Mário Centeno que também é ministro das Finanças de Portugal, em entrevista à TVI.
Adiantou que, após o Conselho Europeu de 23 Abril, o Eurogrupo reunir-se-á no dia ou dias seguintes e que "a questão da dívida é absolutamente essencial, como é evidente".
"As recuperações económicas de agentes endividados são muito mais complexas", disse Mário Centeno sem fazer qualquer referência à emissão de dívida conjunta, na vulgata conhecida por eurobonds ou coronabonds.
Os ministros das Finanças da União Europeia concordaram na quinta-feira em avançar com 500 ME de apoio às suas economias atingidas por coronavírus, mas deixaram em aberto a questão de como financiar a recuperação no bloco que está em vias de uma recessão acentuada.
O acordo foi alcançado depois que a Alemanha, a potência da UE e a França, bateram o pé para acabar com a oposição da Holanda sobre a fixação de condições económicas ao crédito de emergência para governos que resistem aos impactos da pandemia, e ofereceram garantias à Itália de que o bloco mostraria solidariedade.
Mas o acordo não menciona o uso de dívida conjunta para financiar a recuperação - algo que Itália, França e Espanha pressionaram fortemente, mas que é uma linha vermelha para a Alemanha, Holanda, Finlândia e Áustria.
Centeno frisou que a Europa "em 2008 levou muito tempo a reagir" à crise das dívidas soberanas, mas "desta vez em apenas 10 dias conseguiu um quadro financeiro de liquidez de apoio, garantido que há dinheiro para acudir à fase aguda da crise que é temporaria".
"Estamos a falar de redes de segurança. O que estamos a criar são as garantias para que os paises europeus possam no imediato dar a resposta a esta crise", disse, realçando "tudo isto é novo, não há nenhum texto, nenhuma análise, durante séculos de estudo económico".
"Foi uma vitória da Europa...Foi uma resposta corajosa...para que não haja fragmentação nos mercados financeiros", afirmou Centeno.
Referindo-se a Portugal, adiantou que "as estimativas que existem estão enquadrados em 6,5% - de queda do PIB - por cada 30 dias uteis economia parada como está em Portugal, ou seja por cada mês e meio".
O Banco de Portugal (BP) prevê que a economia portuguesa tenha uma forte recessão entre 3,7% e 5,7% em 2020, face ao crescimento de 2,2% em 2019, dado que o surto do coronavírus levará à queda do consumo privado e do investimento empresarial, e ao colapso das exportações.
Perguntado sobre se a TAP-Air Portugal poderia ser nacionalizada respondeu: "nós não vamos seguramente retirar nenhuma possibilidade de cima da mesa para dar resposta a não sei que desafios".
"A TAP tem desafios únicos, há muitas formas de intervir na TAP sem passar por aí (nacionalização), mas essa pode ser uma delas". (Por Sérgio Gonçalves e Catarina Demony)