Por Sergio Goncalves e Catarina Demony
LISBOA, 15 Abr (Reuters) - Portugal está a controlar o surto de coronavírus com curva de novas infecções já em 'planalto' devido ao cívico confinamento da população, mas o primeiro ministro António Costa alertou que ainda é cedo para levantar as restrições e abrir a economia.
A Direcção Geral de Saúde (DGS) anunciou hoje que o número de casos confirmados aumentou 3,7% face a ontem para 18.091, tendo os óbitos subido 32 para 599.
O secretário de Estado da Saúde, António Sales, disse que as autoridades de Saúde estão a ser "muito cautelosas, mas devemos assumir, de forma responsável, que a curva que estamos a ter está em planato" - ou seja um conjunto de semanas após as quais os novos casos começam a descer.
"(Esta) é uma consequência do excelente comportamento e sinal de civimos que o povo portugues tem dado. Não nos queremos comparar com outros países, estamos solidários com os outros países", disse o secretário de Estado em conferência de Imprensa.
"A mortalidade é de 5,5 por cada 100 mil habitantes, o que é uma taxa inferior à da maioria dos países da Europa - penso que a Alemanha e Austria estão com a mesma taxa".
AINDA CEDO
Contudo, o primeiro-ministro, António Costa, disse esta manhã à RTP que "só podemos retomar a actividade quando tivermos a certeza e o conforto necessários, e a confiança suficiente na sociedade, de que, reabrindo, não aumentamos o risco de contaminação além do que é controlável".
"E, para que isso aconteça, sabemos uma coisa agora: ainda não chegou esse momento", afirmou António Costa.
Portugal está em estado de emergência desde 18 de Março, com restrições aos movimentos da população e à actividade de algumas empresas, nomeadamente no comércio e restauração. O presidente Marcelo Rebelo de Sousa já disse que, na próxima sexta-feira, renovará o estado de emergência por mais 15 dias.
António Costa lembrou que, ao contrário de outros países, em Portugal não houve um encerramento de todas as actividades, mas que a abertura da economia terá de ser feita de forma "gradual e progressiva".
O surto de coronavírus está a ter um efeito desvastador na economia global e o FMI projecta que Portugal tenha a mais profunda recessão em quase um século com o PIB a cair 8% em 2020, muito superior à queda de 3,7% a 5,7% estimada pelo Banco de Portugal.
O Fundo vê a taxa de desemprego a disparar dos actuais 6,5% para 13,9% no fim do ano.
A anterior maior recessão em Portugal ocorreu em 1928, quando o produto contraiu 10%, e a contração projectada pelo FMI para Portugal em 2020 é o dobro da registada em 2012 - no pico da crise durante o austero 'bailout' do país.
Em 2019, o PIB português cresceu 1,9% e o país teve um excedente orçamental de 0,2% do PIB - o primeiro em 45 anos de democracia.
O Fundo prevê que Portugal tenha um défice de 7,1% do PIB em 2020, cortando-o para 1,9% em 2021.
Na terça-feira, o ministro das Finanças Mário Centeno disse, em entrevista à TVI, que as estimativas apontam para "uma queda de 6,5% do PIB anual por cada 30 dias úteis de economia parada" como está em Portugal, ou seja por "cada mês e meio".
(Por Sérgio Gonçalves e Catarina Demony; Editado por Patrícia Vicente Rua)