Por Sergio Goncalves e Victoria Waldersee
LISBOA, 15 Mai (Reuters) - Portugal vai limitar o acesso às praias no Verão através de semáforos e a app 'Infopraia' para controlar a lotação das pessoas, visando impedir a propagação do coronavírus quando o país reabre a economia e o paralisado sector do turismo, anunciou o primeiro-ministro, António Costa.
O estado de ocupação das praias será anunciado através de sinalética tipo semáforo, em que o sinal Verde indica ocupação baixa, até 1/3; o Amarelo uma ocupação elevada até 2/3; e Vermelho uma ocupação plena.
Haverá informação atualizada, em tempo real, na app 'Infopraia' e no sítio da APA-Agência Portuguesa do Ambiente, tendo as pessoas de manter uma distância física de 1,5 metros entre si, um afastamento de 3 metros entre chapéus de sol e estão interditas actividades desportivas com 2 ou mais pessoas.
"Sem riscos para a saúde pública, podemos dar um novo passo no desconfinamento. A praia em si não oferece um risco particular e vamos ter um sistema de alerta sobre o nível de ocupação, a sugestão que faco é que descarreguem desde já a app 'Infopraia", disse António Costa em conferência de imprensa.
Adiantou que "é essencial que todos saibam organizar-se, proteger-se, proteger os outros, mantendo na praia o distanciamento social e a etiqueta respiratória".
"Se mantivermos a mesma disciplina que temos tido (no confinamento), agora na rua e designadamente na praia, todos poderemos ter as férias que temos direito, usar o direito de ir à praia", acrescentou António Costa.
O turismo em Portugal cresceu ininterruptamente durante nove anos e foi um poderoso motor de crescimento desde que o país saiu da crise da dívida de 2011-14, com as receitas do turismo - hotéis, restaurantes e outros - a baterem recordes sucessivos e a alcançarem 30.000 milhões de euros (ME) ou 15% do PIB em 2019.
TRAVA A FUNDO
Mas, o surto de coronavírus ditou um colapso abrupto do sector a partir de Março pois os 'lockdowns' em vários países e a inexistência de ligações aéreas encerrou a quase totalidade dos hoteis em Portugal, sendo que os escassos restaurantes que continuaram a operar fazem-no apenas em 'take away'.
"Nós, no melhor cenário que temos, em Setembro estaremos em 50% da nossa capacidade e vai haver hotéis que é impossível abrirmos este ano", disse José Theotónio, CEO do Grupo Pestana, o maior hoteleiro de Portugal que fechou 71 dos 73 hoteis no país e projecta começar a abri-los lentamente a partir de Junho.
Num conferencia online organizada pela Universidade Nova SBE José Theotónio adiantou que "vai haver uma dificuldade grande pois os custos estão todos cá e as receitas evoluirão de forma muito gradual".
A contração do turismo já é notória nas estatísticas e o INE anunciou que o Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal contraiu em cadeia 3,9% no primeiro trimestre de 2020, face ao trimestre anterior, tendo o número de hóspedes afundado 62% em Março.
Segundo a Associação de Hotelaria de Portugal (AHP), 94% dos hotéis portugueses estão fechados e 85% dos 60.000 trabalhadores em 'layoff' temporário, prevendo uma perda de receita entre 1.280 e 1.440 milhões de euros (ME) entre março e junho.
Um inquérito da associação de hotelaria e restauração AHRESP, entre 30 abril e 4 maio, a 1.722 empresas do sector, revelou que 73% destas após a reabertura não terão condições para manter a actividade, se não tiverem ajudas estatais.
Das empresas inquiridas, cerca de 32% já não pagou salários em Abril e 12% apenas pagou uma parte, sendo que 67,5% das empresas não conseguirão pagar salários em Maio, se não tiverem o apoio do 'layoff'.
Ana Jacinto, Secretaria Geral da AHRESP, disse que, "nos últimos anos, Portugal estava na moda e tudo estava a correr bem, muitas empresas até se endividaram, fazendo investimentos em reestruturações, novos equipamentos, esperando uma Páscoa fantástica e um Verão fantástico".
"Vínhamos num processo de recuperação, estávamos a recuperar, a seguir o bom caminho, quando levámos com esta machadada toda", disse à Reuters.
José Theotónio disse que as organizações que têm músculo financeiro, como o Grupo Pestana, "têm de ser chamadas a manter postos de trabalho e a terem essa responsabilidade, não se esquecendo que esses colaboradores são os que no futuro, quando houver a retoma, também são o seu melhor activo".
"São profissionais que estão formados ou que vieram para este sector e trouxeram competências novas que depois serão essenciais".
SEGURANÇA
O presidente do Turismo de Portugal, Luís Araújo, disse na conferência online da Nova que as medidas "estão todas a ser pensadas com muito bom senso e partem da responsabilização tri-partida: das entidades oficiais, das concessionárias das praias e dos próprios cidadãos".
"Há uma questão que se sobrepõe a qualquer outra que é a saúde pública, até numa óptica de confiança para o exterior", disse, referindo que foi por isso que lançou o 'selo' Clean & Safe', inicialmente para hoteis e que se estendeu à restauração.
Visando ajudar as microempresas de comércio e restauração, o Governo lançou um pacote de ajudas, 80% a fundo perdido, em que paga as despesas de higiene e equipamentos de segurança, num intervalo entre 500 e 5.000 euros por empresa.
Luis Araújo referiu que "obviamente as restrições afastam turistas, mas a primeira questão é saber se os turistas querem ou não viajar e se há ligações aéreas".
"Nós (Portugal) não vivemos sozinhos enquanto destino, vivemos em coordenação e colaboração com os outros. Primeiro, tem de haver confiança das pessoas em viajar e, segundo, confiança no destino", disse Luís Araújo. (Por Sérgio Gonçalves e Victoria Waldersee; Editado por Catarina Demony)