(Acrescenta comentário Ministério das Finanças)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 1 Mar (Reuters) - O Produto Interno Bruto (PIB) de Portugal cresceu 0,6 pct no quarto trimestre de 2016 face ao trimestre anterior, suportado pelo investimento que deixou de cair e teve um crescimento trimestral de 5 pct, disse o Instituto Nacional de Estatística (INE).
O INE adiantou, numa segunda leitura, que o PIB português teve um crescimento homólogo de 2,0 pct entre Outubro e Dezembro de 2016, face aos 1,9 pct da sua estimativa rápida em 14 de Fevereiro, após os 1,7 pct revistos do terceiro trimestre.
Na estimativa rápida, o INE tinha previsto um crescimento em cadeia de 0,6 pct no quarto trimestre, que agora confirma, depois do PIB ter crescido 0,9 pct no terceiro trimestre face ao segundo.
O INE afirmou que "o contributo da procura interna passou de negativo, no terceiro trimestre (-0,3 pp), para positivo (1,6 pp), devido à evolução favorável de todas as componentes, com particular destaque para a expressiva recuperação do Investimento, que tiveram variações em cadeia de -2,9 pct e +5,0 pct nos terceiro e quarto trimestres, respetivamente".
Em sentido oposto, "a procura externa líquida apresentou um contributo negativo no quarto trimestre (-1,0 pp), após ter sido positivo no trimestre anterior (1,2 pp), com as Importações de Bens e Serviços a apresentarem um forte crescimento".
O Ministério das Finanças, em comunicado, realçou que "a aceleração do PIB está ancorada em sinais positivos para o futuro".
Lembrou que "o investimento teve o principal contributo" e que "ao longo do último trimestre, o crescimento homólogo de 6,9 pct do investimento em máquinas e equipamentos".
"Este reforço do investimento é fundamental para a sustentabilidade do crescimento económico ao longo de 2017".
"Globalmente tratam-se de números positivos porque confirmam o crescimento continuo da economia portuguesa desde meados de 2013, variações homólogas. O ritmo de crescimento encontra-se relativamente estabilizado desde essa altura", disse Filipe Garcia, economista do IMF-Informação de Mercados Financeiros, no Porto.
Adiantou que, contudo, "aparentemente, o que a economia portuguesa consegue em termos estruturais é crescer em torno de 1,5 pct ao ano".
"Sendo uma evolução positiva, não podemos esquecer o contexto actual que é muito favorável: a política monetária continua muito expansiva e com taxas de juro muito baixas, o 'apoio' do BCE tem efeitos ao conter o 'risco país', a economia mundial e europeia está a crescer, o euro está relativamente baixo e tem sido excelente o desenvolvimento do sector do turismo em Portugal", adiantou Filipe Garcia.
O Governo, que tem adoptado uma política de reposição do rendimento das famílias e apoio ao investimento empresarial, visando suportar a procura interna, previa que o PIB tivesse crescido 1,2 pct em 2016 e estima que cresça 1,5 pct em 2017, embora a Comissão Europeia (CE) aponte para 1,6 pct este ano.
"(Em termos anuais) o contributo da procura interna para a variação do PIB diminuiu, situando-se em 1,5 pontos percentuais (pp) em 2016 (2,6 pp em 2015), refletindo, principalmente, a redução do Investimento e, em menor grau, o ligeiro abrandamento do consumo privado", referiu o INE.
Adiantou que "a procura externa líquida passou de um contributo de -1,0 pp em 2015 para -0,1 pp, em resultado da desaceleração das Importações de Bens e Serviços, mais acentuada que a das Exportações de Bens e Serviços".
MELHORA CONFIANÇA
Filipe Garcia afirmou que "olhando para os números do trimestre, confirma-se o crescimento do consumo privado, que poderá ser explicado muito pela evolução da confiança", frisando: "o crédito disponível poderá também estar a ter um papel importante neste domínio".
"No investimento no quarto trimestre, destaca-se a construção, sinal da melhora do mercado imobiliário, do turismo e da migração de investimento financeiro para outras classes de ativos, nomeadamente o imobiliário", afirmou.
Afirmou que "os resultados da procura externa líquida são animadores, mas parecem-nos muito assentes no espectacular desenvolvimento do turismo, o que é positivo e tem permitido acomodar a queda nas exportações para outros países como Angola".
"Aliás, essa parece ser a maior alteração, talvez estrutural da economia portuguesa: há muitas décadas que Portugal é um país de turismo, mas nos últimos anos a sua importância tem aumentado e é provável que esteja ana base externalidades positivas em outras áreas, nomeadamente no imobiliário e no emprego".
O Ministério das Finanças sublinhou que "a aceleração do crescimento é também acompanhada por sinais positivos do mercado de trabalho".
A taxa de desemprego em Portugal fixou-se em 10,2 pct em Janeiro de 2017, ao mesmo nível do mês anterior, com uma queda ligeira da taxa de desemprego jovem a contrabalançar uma leve subida do desemprego adulto, segundo o INE.
"Estes dados confirmam ainda o rigor das estimativas subjacentes ao Orçamento do Estado de 2017, reforçando a convicção do Governo nos objetivos orçamentais e de crescimento para 2017", afirmou o Ministério das Finanças.
Em 15 de Fevereiro, o Governo reviu em baixa a previsão do défice público português em 2016 para um valor não superior a 2,1 pct do PIB, o mais baixo em 42 anos, face à anterior estimativa de igual ou inferior a 2,3 pct, que já estava duas décimas abaixo do exigido por Bruxelas. 2015, o défice português situou-se em 4,4 pct do PIB, penalizado pelo resgate do banco Banif, enquanto o Executivo prevê que o défice caia para 1,6 pct do PIB em 2017.
Portugal está a encaminhar-se para a saída do Procedimento por Défices Excessivos (PDE) em Abril, se mostrar uma correcção "clara e duradoura" do défice público em linha com as projecções da Comissão Europeia (CE), disse, na semana passada, o vice-presidente da Comissão Europeia (CE), Valdis Dombrovskis. comissário, que é o responsável pelo Euro e Estabilidade, lembrou que, as projecções de Inverno da Comissão Europeia (CE) apontam para um défice público de 2 pct do PIB em 2017 e 2,2 pct em 2018.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)