(Acrescenta citações de economistas)
Por Sergio Goncalves e Daniel Alvarenga
LISBOA, 15 Nov (Reuters) - A economia de Portugal disparou inesperadamente 0,8 pct em cadeia no terceiro trimestre de 2016, com um forte aumento das exportações líquidas, tornando mais fácil ao Governo cumprir a meta orçamental este ano e abrindo melhores perspectivas para o crescimento em 2017, segundo analistas.
De acordo com o Instituto Nacional de Estatística (INE), em termos homólogos, o PIB cresceu 1,6 pct entre Julho e Setembro de 2016, muito acima da taxa de crescimento de 0,9 pct que tinha registado entre Abril e Junho deste ano.
No segundo trimestre, o PIB português tinha crescido em cadeia, ou seja face ao primeiro trimestre, uns tímidos 0,3 pct.
"O contributo da procura externa líquida (para o PIB em cadeia) foi positivo, refletindo o forte aumento das Exportações de Bens e Serviços, enquanto a procura interna registou um contributo negativo", referiu o INE.
"Para nós foi uma surpresa, foi bastante positivo e significa que não será necessário crescer tanto no último trimestre do ano para o Governo atingir os objectivos orçamentais para este ano. Torna-se mais provável alcançá-los", disse Paula Carvalho, economista chefe do BPI, em Lisboa.
Adiantou que tal "pode significar que, atendendo à leitura agregada, ficou a dever-se muito às exportações e acaba por sustentar um cenário de lenta aceleração (do PIB) em 2017, suportada pelas exportações".
"Este cenário não é isento de risco dado que os riscos globais no próximo ano são significativos mas, como são sobretudo de natureza política, o seu impacto na actividade económica é incerto", referiu.
Filipe Garcia, economista e presidente da IMF-Informação Mercados Financeiros, no Porto, realçou que "o crescimento homólogo de 1,6 pct provavelmente será bem-recebido pelos analistas internacionais".
"Trata-se ainda de uma taxa de crescimento baixa e é uma dinâmica que carece de confirmação nos trimestres seguintes, mas parece ser um bom número", acrescentou.
Os economistas do Millennium bcp previam que o Produto Interno Bruto (PIB) português tivesse crescido 0,1 pct no terceiro trimestre de 2016 face ao segundo trimestre, enquanto a Católica Lisbon estimava que crescesse 0,2 pct em cadeia, sugerindo que "a economia está com um crescimento fraco desde o segundo semestre de 2015".
O Governo socialista, que tem adoptado uma política de reposição de rendimentos das famílias, prevê que o PIB português cresça 1,2 pct em 2016, contra 1,6 pct em 2015, estimando uma expansão de 1,5 pct em 2017.
O défice público é visto, pelo Executivo, a descer para 2,4 pct do PIB em 2016, contra 4,4 pct em 2015 devido à injeção de fundos públicos no resgate do Banif, prevendo cortá-lo para 1,6 pct em 2017.
"O crescimento em cadeia de 0,8 pct contrasta com cinco trimestres consecutivos com crescimentos entre +0,1 pct e 0,3 pct e coloca novamente em aberto a possibilidade de Portugal crescer acima de 1 pct em 2016", referiu Filipe Garcia.
"Segundo o INE, esta aceleração resulta da procura externa líquida, para a qual o turismo deverá ter registado um contributo importante", acrescentou.
EXPORTAÇÕES FORTES
Quanto à variação homóloga, o INE frisou que "o crescimento mais intenso do PIB refletiu principalmente o aumento do contributo da procura externa líquida, verificando-se uma aceleração mais expressiva das Exportações de Bens e Serviços em comparação com a das Importações de Bens e Serviços", afirmou o INE.
Adiantou que "a aceleração das exportações foi comum às componentes de bens e de serviços".
Explicou que "o contributo da procura interna para a variação homóloga do PIB também aumentou no terceiro trimestre, em resultado da aceleração do consumo privado devido ao comportamento da componente de bens não duradouros e serviços, enquanto a componente de bens duradouros desacelerou".
"Estes dados surpreenderam muito pela positiva. São boas notícias, não há como o negar. Será agora importante perceber quais são as variáveis que estão a puxar pelo PIB e se são 'saudáveis'", disse Rui Bárbara, economista do Banco Carregosa, em Lisboa.
E O INVESTIMENTO?
Paula Carvalho afirmou que "agora só falta olhar para o detalhe e perceber o que aconteceu ao investimento".
"Seria excelente se esta aceleração das exportações fosse acompanhada pela retoma do investimento, mas há que esperar pelos detalhes", adiantou.
Filipe Garcia afirmou que "o modelo de crescimento baseado na tentativa de promoção do consumo privado continua, assim, a não parecer ser o caminho mais adequado para se chegar a um crescimento sustentado".
"A procura interna teve um contributo negativo de julho a setembro. Preocupa-nos o que estará a acontecer ao investimento, que não deixa de ser a semente de crescimento futuro e que, receamos, terá tido mais um mau trimestre", disse. (Por Sérgio Gonçalves e Daniel Alvarenga; Editado por Patrícia Vicente Rua)