(Acrescenta lista riscos banca Portugal, comentários CEOs e APB)
Por Daniel Alvarenga
LISBOA, 23 Nov (Reuters) - A banca portuguesa está mais robusta e mostrou resiliência face aos choques da crise financeira, tendo agora que se concentrar em melhorar a rentabilidade, segundo o Governador do Banco de Portugal, que está atento à qualidade dos colaterais para o ainda elevado crédito em risco de 32.000 ME no sistema.
"O sistema (financeiro) está muito mais robusto, não obstante ter absorvido perdas e imparidades muito significativas durante este período (associado ao resgate do país)", disse Carlos Costa, numa conferência em Lisboa.
"Significa que a banca foi muito mais resiliente do que normalmente se diz e os que dizem que o programa de ajustamento do ponto de vista do sistema bancário foi um fracasso não sabem do que falam".
Frisou que tal afirmação "é uma ofensa a quem fez o programa de ajustamento e uma ofensa para o Banco de Portugal".
"Eu sinceramente não compreendo e revela grande ignorância, para não dizer iliteracia".
No âmbito do resgate de 78.000 milhões de euros (ME) a que Portugal acedeu em 2011, foi providenciada uma linha de recapitalização de 12.000 ME para a banca, que foi utilizada em cerca de metade para reforçar o capital de bancos.
SEIS RISCOS
O Governador elencou os seis principais factores de fragilidade do sistema financeiro português. Primeiro a estrutura accionista dos bancos, nomeadamente o risco de ausência de accionistas com 'real money' ou falta de vontade de abrir o capital a accionistas com 'real money'.
Segundo, o financiamento para a aquisição de participações sociais. Em terceiro, a subestimação do risco e maximização da concessão de crédito.
Carlos Costa indica ainda como fragilidade o financiamento de sectores dependentes da capacidade de endividamento da procura e de empresas com reduzidos níveis de capitais próprios.
Por fim, o sexto risco enumerado foi o financiamento de particulares com elevada exposição ao ciclo económico.
Carlos Costa referiu que as imparidades hoje nos balanços dos bancos ascendem a 21.000 ME, para um total de 'non-performing exposures', ou seja a activos que não geram rendimento, de 53.000 ME.
"Significa que os bancos têm hoje 32.000 ME de 'non performing exposures', num conceito muito lato embora não estejam em incumprimento colocam questões do ponto de vista da sua recuperação e têm colateral associado de 26.000 ME", explicou Carlos Costa.
"Significa que temos de olhar para o colateral e para o crédito líquido de imparidades e perceber que os activos não geradores de rendimento não são necessariamente perdas".
Vincou que "o primeiro desafio de todos é melhorar a rentabilidade. Se não houver melhor medida de rendibilidade não é possível captar capital, não sendo possível captar capital não é possível acompanhar o financiamento da economia".
"Também não é possível absorver as perdas que resultam da existência de activos no balanço que vão ainda gerar perdas no futuro."
REPUTAÇÃO IMPORTANTE
Fernando Faria de Oliveira, Presidente da Associação Portuguesa de Bancos (APB), frisou que os bancos devem ter atenção à qualidade e integridade dos accionistas.
"Aquilo que importa é a qualidade do accionistas e não a nacionalidade dos accionistas", disse.
"Interessa é que principalmente os accionistas de referência assegurem solidez financeira, capacidade financeira, credibilidade e reputação inquestionáveis e capacidade de gestão".
O sistema financeiro português atravessa um momento de profunda transformação, com o processo de venda do Novo Banco em curso, a entrada dos chineses da Fosun no capital do Millennium bcp BCP.LS , a Oferta Pública de Aquisição dos espanhóis do Caixabank sobre o BPI BBPI.LS e o processo de recapitalização da Caixa Geral de Depósitos.
"A Fosun é uma empresa chinesa, cuja credibilidade não tem sido posta em causa", referiu Faria de Oliveira.
Nuno Amado, CEO do Millennium BCP, frisou que "a questão da nacionalidade dos accionistas não é relevante, é mais relevante a qualidade dos accionistas.
"Sou a favor da diversificação quanto à origem (do capital). É bom para a concorrência".
António Vieira Monteiro, CEO do Santander Totta, disse que: "o investimento estrangeiro é sempre bem vindo desde que cumpra as regras e o modo de funcionar do nosso mercado". (Por Daniel Alvarenga; Editado por Sérgio Gonçalves)