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Por Daniel Alvarenga
LISBOA, 13 Set (Reuters) - Portugal emitiu 850 milhões de euros (ME) de obrigações do tesouro a 10 anos, com os juros a aliviarem substancialmente face à última emissão em Julho, com os bons dados de retoma da economia portuguesa e após a Moody's ter melhorado a perspectiva de notação, suportados pela expectativa que o BCE seja cuidadoso a retirar os estímulos monetários, segundo operadores.
O Tesouro pagou 2,785 pct, a 'yield' mais baixa desde 2015, contra 3,085 pct na emissão anterior comparável. A procura superou a oferta 2,06 vezes. O montante indicativo era entre 750 e 1.000 ME.
O soberano continua apoiado pelo massivo programa de estímulos monetários do Banco Central Europeu, que incluem a compra de obrigações dos vários países do euro.
Na emissão anterior comparável em Julho, o mercado de obrigações estava sob pressão de uma onda de receios que o Banco Central Europeu inicia-se a reversão dos estímulos monetários extraordinários e indicações que a economia dos EUA está pronta para outra subida de taxas de juro.
A 'yield' dos 'bonds' de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB , negociados em mercado secundário, recuou de um máximo de Julho nos 3,2 pct para 2,84 pct hoje.
"Portugal continua com folga financeira e a conseguir fazer o 'roll over' da sua dívida, tal como no recente leilão de troca de dívida", disse Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa no Porto.
Na reunião de política monetária em Setembro, o Presidente do BCE, Mário Draghi, disse que o 'board' estaria pronto para anunciar os próximos passos de política monetária na reunião de Outubro, momento que poderá ser o tiro de partida para o desmontar da 'bazuca' de compra de obrigações do BCE.
Fontes com conhecimento directo da discussão da última reunião do BCE disseram à Reuters que existem várias opções em cima da mesa, incluindo diminuir o actual ritmo de 60.000 milhões de euros de compras de obrigações por mês para 40.000 ou 20.000 ME, prolongando, contudo, o programa para lá do prazo actual de Dezembro.
"O resultado do leilão é benéfico para o Tesouro. Penso que o BCE será muito cauteloso nas decisões futuras, não esperamos já em Outubro grande revolução na política monetária. O discurso será no sentido de manter as taxas baixas durante um longo período de tempo", disse Miguel Gomes da Silva, Director da Sala de Mercados do Montepio (LS:MPIO).
"Em termos de 'quantitative easing' poderá haver uma sinalização de redução do ritmo de compras, mas sem nunca dar demasiada visibilidade para manter flexibilidade."
Ontem, o Vice-Presidente do BCE, Vítor Constâncio, disse que as ferramentas pouco convencionais dos bancos centrais têm, no geral, resultado e devem continuar a fazer parte do arsenal de políticas apesar de algumas deficiências. toda a Europa, nota-se que os países estão a aproveitar para emitir dívida antes do BCE reduzir o programa de compra de activos, que poderá ser anunciado já em Outubro", disse Steven Santos, corretor do BiG-Banco de Investimento Global.
"Ainda assim, uma provável redução do ritmo mensal de compra de activos por parte do BCE não deverá ter um impacto expressivo na compra de títulos portugueses".
Entretanto, no início de Setembro, a agência de notação Moody's melhorou a perspectiva de 'rating' de Portugal para positiva, de estável, sinaliznado uma maior resiliência do crescimento económico, assim como as recentes melhorias orçamentais e da estrutura de dívida. sexta-feira, a Standard&Poor's poderá pronunciar-se sobre a notação de Portugal.
O Governo antevê uma expansão superior a 2 pct este ano, o que deverá ajudar a reduzir o défice para 1,5 pct do PIB, de 2 pct em 2016.
PORTUGAL FORTE
O Banco de Portugal prevê que a economia lusa creça 2,5 pct em 2017 e 2 pct em 2018 após o crescimento de 1,4 pct no ano passado. A economia portuguesa cresceu em termos homólogos 2,9 pct no segundo trimestre de 2017 apoiada no "elevado contributo" da procura interna, com a aceleração do investimento.
"O desempenho sólido de Portugal em vários indicadores macroeconómicos recentemente publicados, como a inflação e o crescimento do emprego, motivou os investidores a ter confiança em Portugal, bem como a melhoria das perspectivas futuras atribuídas pela Moody's a Portugal", disse Steven Santos.
"O clima favorável vivido por Portugal nos planos macroeconómico e internacional foi muito relevante para a diminuição do custo de financiamento nesta operação". (Por Daniel Alvarenga; Editado por Sérgio Gonçalves)