(Acrescenta citações do ministro das Finanças)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 17 Nov (Reuters) - Portugal reembolsou ontem antecipadamente mais uma parcela do caríssimo empréstimo que pediu ao FMI no resgate de 2011, equivalente a 2.780 milhões de euros (ME), aproveitando as taxas mínimas recorde de emissões em mercado primário para fazer amortizações, anunciou o Ministério das Finanças.
O empréstimo do Fundo Monetário Internacional (FMI) tem uma taxa 'all in' de 4,2 pct, ou seja um custo muito mais elevado do que os 2,7 pct cobrados pelo EFSM e do que os 1,9 pct cobrados pelo EFSF, sendo também mais do dobro da 'yield' a 10 anos à qual Portugal se tem financiado em mercado primário.
O Ministério das Finanças afirmou que, "com este pagamento, ficam liquidados 76 pct do empréstimo do FMI, de 26.300 ME".
"O reembolso antecipado ao FMI contribui decisivamente para a melhoria da sustentabilidade da dívida, reduzindo o custo desta e permitindo, simultaneamente, uma gestão dos pagamentos mais equilibrada e o aumento da maturidade média", afirmou.
"O plano de amortizações antecipadas do FMI continuará a ser implementado em 2018", disse, referindo que, "durante o corrente ano foram já pagos 9.012 ME, o valor máximo amortizado, em termos anuais, até à presente data".
Esta parcela do empréstimo paga ontem vencia-se entre junho de 2020 e maio 2021.
MANTER RUMO
"Temos um rumo. O país finalmente tem um rumo, que é de credibilidade (...) Tem de zelar pela estabilidade financeira e das contas públicas, caso contrário não será o orçamento que o país merece e não será o orçamento deste governo"", disse o ministro das Finanças, no Parlamento.
"Temos de manter os compromissos, não o fazer é colocar em causa o esforço dos portugueses. Não contem connosco para isso".
A Orçamento de Estado para 2018 prevê que Portugal corte o défice público em 4 décimas para 1 pct do PIB em 2018, reduzindo-o para o nível mais baixo em 42 anos pelo terceiro ano seguido. O Produto Interno Bruto é visto crescer 2,2 pct em 2018, uma desaceleração face aos 2,6 pct de 2017.
CORTAR DÍVIDA
Mário Centeno frisou que Portugal tem de prosseguir com determinação para reduzir a sua elevada dívida, até porque inevitavelmente as taxas de juro tenderão a subir na Europa.
"Este é um desafio que não podemos perder, porque sabemos que vêm ai tempos melhores para a economia europeia, e com eles o ciclo das taxas de juro baixas poderá ser alterado", disse o ministro das Finanças.
"Não podemos chegar a esse momento sem ter a dívida em percentagem do PIB a cair de forma sustentada (...) Portugal merece e tem de saber aproveitar estes momentos", vincou.
O Governo prevê que a dívida pública desça para 123,5 pct do Produto Interno Bruto (PIB) em 2018, contra 126 pct no final de 2017, quando cairá quase quatro pontos percentuais face a 2016.
YIELDS BAIXAS
No mercado de secundário, a 'yield' das obrigações do tesouro de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB seguem a negociar estabilizadas nos 1,99 pct, muito abaixo dos 4,25 pct de Fevereiro de 2017.
Em 8 de Novembro, o Tesouro de Portugal colocou 1.250 milhões de euros (ME) de Bonds a 10 anos e pagou 1,939 pct, a taxa mais baixa de sempre em mercado primário, beneficiando da acção do BCE e do país estar a prosseguir a trajectória do corte do défice com crescimento.
Esta taxa de 'allotment' comparou com 2,327 pct num leilão de Outubro e com o anterior mínimo histórico 2,04 pct numa colocação em Fevereiro de 2015. A 'yield' a 10 anos mais baixa de sempre em mercado secundário foi 1,52 pct em Março de 2015. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)