Por Sergio Goncalves
LISBOA, 26 Jun (Reuters) - A economia de Portugal tem elevados níveis de endividamento e é vital que todos os sectores reduzam a sua dívida, caso contrário poderá voltar a ficar vulnerável a choques externos potencialmente penalizadores da estabilidade financeira, disse o governador do Banco de Portugal (BP), Carlos Costa
Numa comissão do Parlamento, lembrou que a dívida externa bruta de Portugal quase quadruplicou entre 1996 e 2012, situando-se nos 211 pct do PIB em 2017. A dívida do sector privado não financeiro aumentou de 89 pct em 1995 para um máximo de 220 pct em 2012 e em 2017 ficou acima dos 173 pct.
A dívida pública passou de 50 pct para mais de 130 pct do PIB entre 2000 e 2014, cifrando-se em 126 pct em 2017.
Realçou que "dados do Fundo Monetário Internacional revelam que este nível de dívida pública no ano transato era o quarto mais elevado entre as economias desenvolvidas de todo o mundo, com apenas duas economias – Japão e Grécia – a apresentar um nível de endividamento marcadamente superior".
"É absolutamente vital que todos os actores relevantes possam congregar esforços em torno do objectivo de redução dos stocks de dívida acumulados na economia portuguesa", disse Carlos Costa, também membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu (BCE).
"Na ausência de uma estratégia credível que garanta aos mercados que o serviço da dívida não será posto em causa, a economia poderá ficar vulnerável a choques externos", avisou.
Explicou que estes choques seriam "potencialmente conducentes a uma suspensão abrupta do financiamento, com implicações negativas para a estabilidade financeira e para a condução da política monetária".
O Governo prevê que o rácio de dívida pública desça para 122,2 pct em 2018 e vá descendo progressivamente até aos 102 pct em 2022.
Carlos Costa adiantou que "às autoridades responsáveis pela condução da política orçamental cabe a escolha dos instrumentos e da estratégia de redução da dívida pública".
"Já a perspetiva de um banco central sobre o tema do endividamento foca-se essencialmente no seu impacto na condução da política monetária e na salvaguarda da estabilidade financeira", lembrou.
Carlos Costa referiu que "a circunstância da integração de Portugal na União Europeia e na área do euro representa um importante factor de credibilização junto dos mercados financeiros".
"Trilhar o caminho de redução de dívida ao ritmo de regras comunitárias preventivas, não só credibiliza a trajetória de consolidação, como torna esse esforço mais suave, gradual e consistente", disse.
"Todos temos memória viva das consequências, esforços e condicionalismos que podem resultar de alterações abruptas na perceção dos investidores relativamente à sustentabilidade da dívida", alertou.
Destacou que "à dureza dos ajustamentos implícitos acresce tipicamente a circunstância de estes se tornarem necessários em momentos de choques adversos, períodos em que o ajustamento é mais difícil e gravoso".
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Catarina Demony)