Os doentes que se dirigiram aos hospitais portugueses no início desta semana tiveram de aguardar períodos que, em alguns casos, superaram as nove horas para doentes urgentes em algumas zonas do país. Esta terça-feira, continua a ser necessário esperar várias horas para receber cuidados médicos.
O Serviço Nacional de Saúde (SNS) informou na segunda-feira que muitos hospitais do país estavam a debater-se com a elevada procura - numa altura de pico de infeções respiratórias, incluindo gripe - e com a falta de trabalhadores nos serviços.
No mesmo dia, os doentes urgentes que procuravam ser assistidos no Hospital Amadora-Sintra, em Lisboa, enfrentaram uma média de oito horas de espera até conseguirem ser vistos por um profissional de saúde. Pelas 7:00 desta terça-feira, de acordo com a informação disponibilizada no portal do SNS que sistematiza os tempos médios de espera nos serviços de urgência, o tempo médio de espera para casos urgentes nas urgências gerais do Amadora-Sintra superava as 16 horas.
Ainda na capital, os tempos de espera no Hospital de Santa Maria são, ao início da manhã desta terça-feira, de mais de seis horas - e de cerca de cinco horas e meia no Hospital São Francisco Xavier. À mesma hora, o portal não disponibilizava os dados referentes ao Hospital Beatriz Ângelo, em Loures - um dos estabelecimentos onde se têm registado das situações mais complexas ao longo dos últimos dias, com tempos de espera que chegaram, em algumas ocasiões, às 17 horas.
Problemas também em Coimbra e Algarve
Mas os tempos de espera excessivamente longos não se limitaram a Lisboa. Em Coimbra e Portimão, foram também registados tempos de espera de nove horas para doentes urgentes na segunda-feira. A situação melhorou ligeiramente no final do dia, depois de as autoridades de saúde locais terem ativado planos de contingência para melhor gerir a situação.
Às 7:00 desta terça-feira, os casos urgentes no Centro Hospitalar e Universitário de Coimbra aguardavam uma média de quatro horas e meia, com a situação no Hospital de Portimão também consideravelmente mais calma.
Já o Hospital Garcia de Orta, em Almada, conta atualmente com um tempo médio de espera perto das sete horas para os casos urgentes, enquanto o principal hospital da cidade do Porto - o Hospital de São João - apresenta uma situação mais controlada, com cerca de duas horas de espera.
As dificuldades deveram-se também ao facto de seis serviços de urgência terem estado encerrados na segunda-feira, enquanto outros 13 serviços foram reservados para as urgências internas, funcionando apenas para os casos referenciados pelo Instituto Nacional de Emergência Médica (INEM) e pela linha SNS.
Os serviços encerrados situavam-se maioritariamente na região de Lisboa e Vale do Tejo, havendo apenas um no centro, que apenas atende urgências de obstetrícia, ginecologia e pediatria.
Esta terça-feira, apenas a urgência pediátrica do Hospital Nossa Senhora do Rosário (Barreiro) e a urgência de obstetrícia e ginecologia do Hospital Doutor Manoel Constâncio (Abrantes) se encontram encerradas, embora outros 16 serviços funcionem apenas para casos referenciados pelas entidades anteriormente citadas.
As autoridades portuguesas asseguraram, na segunda-feira, que, independentemente dos tempos de espera, todos os doentes que procuraram assistência médica acabaram por receber tratamento.
Bombeiros sobrecarregados
Mas os atrasos não afetaram apenas os serviços de urgência: também os bombeiros reportaram dificuldades. Mário Conde, comandante dos Bombeiros da Amadora, explicou que os constrangimentos nos hospitais estão a sobrecarregar os seus recursos.
“Registamos alguns constrangimentos no serviço de urgência para a população, porque temos muitos serviços na área do apoio hospitalar e ter uma ambulância no hospital durante 40 minutos é muito tempo e, assim, dificilmente conseguimos prestar uma assistência rápida e eficaz com este tempo de espera, porque há falta de recursos para todas as pessoas”, mencionou.
Já Gustavo Tato Borges, da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, explicou que o aumento de casos de infeções respiratórias está a complicar as situações nos hospitais: “O vírus da gripe está a aumentar, ainda não estamos no pico, ainda estamos numa fase de crescimento. E o facto de termos uma baixa taxa de vacinação abaixo dos 85 anos faz com que o vírus possa circular mais facilmente”, assinalou.