Investigadores identificam novos fatores de risco genéticos para a depressão. Eis o que significa

Publicado 16.01.2025, 15:19
© Reuters.  Investigadores identificam novos fatores de risco genéticos para a depressão. Eis o que significa

Cerca de 300 novas variantes genéticas foram associadas à depressão, de acordo com um novo estudo que incluiu uma grande amostra de quase 5 milhões de pessoas.

A equipa internacional, liderada por investigadores da Universidade de Edimburgo e do King's College de Londres, analisou dados genéticos de 680 mil pessoas com depressão e 4 milhões sem depressão em 29 países.

Este tipo de estudo analisa o ADN e os marcadores genéticos das pessoas para verificar se as variantes genéticas estão ligadas a uma característica ou doença específica, neste caso, a depressão.

Os investigadores encontraram 697 variações genéticas, ou diferenças nas sequências de genes, 293 das quais eram novas descobertas.

O estudo associou 308 genes específicos a um maior risco de depressão, de acordo com os resultados publicados esta semana na revista Cell.

Os genes associados estavam ligados aos neurónios, um tipo de célula cerebral, que se encontra em áreas como a amígdala e o hipocampo.

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"A depressão é um distúrbio altamente prevalente e ainda temos muito a aprender sobre os seus fundamentos biológicos", afirmou Cathryn Lewis, professora de epidemiologia genética e estatística no King's College de Londres e colíder do estudo, num comunicado.

"Estas descobertas mostram que a depressão é altamente poligénica e abrem caminhos a jusante para traduzir estas descobertas em melhores cuidados para as pessoas com depressão", acrescentou.

Os autores do estudo afirmaram que um em cada quatro participantes era de origem não europeia, representando uma coorte diversificada.

Embora a genética seja um fator importante na depressão, esta pode também depender muito de fatores sociais e psicológicos.

Os factores de risco para a depressão incluem também acontecimentos traumáticos ou stressantes, antecedentes de outras perturbações da saúde mental e abuso de substâncias, de acordo com a Clínica Mayo, um centro médico sediado nos EUA.

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Jacob Crouse, investigador sénior do Centro do Cérebro e da Mente da Universidade de Sydney, que não participou no estudo, disse à Euronews Health, por correio eletrónico, que o estudo é "um testemunho emocionante e inspirador do poder da colaboração global".

"Em última análise, estas descobertas estão a demonstrar claramente que a 'depressão' é uma família altamente complexa de condições - e não uma única doença - que pode ser causada por muitos processos diferentes que correm mal em diferentes alturas do curso de vida", acrescentou.

Uma melhor compreensão da depressão

Muitos investigadores e clínicos estão entusiasmados com a perspetiva de utilizar "pontuações de risco poligénico na clínica, que são uma agregação do risco genético molecular de um indivíduo para uma determinada doença (ou conjunto de doenças)", notou Crouse.

Este tipo de ferramenta preditiva, no contexto das clínicas de saúde mental jovem, por exemplo, poderia ajudar a saber se uma pessoa "está a caminho de um tipo grave de doença mental".

No entanto, a investigação ainda não está concluída e o investigador sublinha que "o risco genético não é determinístico".

"Uma pessoa pode ter um risco genético muito elevado para uma perturbação depressiva e não a desenvolver por razões complexas que podem ser impossíveis de conhecer a nível individual", realçou.

"Poderá ser potencialmente prejudicial para os médicos informar esta pessoa do seu risco genético - por isso, há compromissos que têm de ser cuidadosamente ponderados".

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De acordo com dados de 2019, cerca de 7% dos europeus sofrem de depressão crónica, sendo as mulheres mais afetadas do que os homens.

Os tratamentos para a depressão podem incluir terapia ou medicação para a depressão moderada ou grave.

"Embora a depressão seja um problema de saúde cada vez mais importante, faltam-nos os conhecimentos necessários para a tratar e prevenir melhor", afirmou em comunicado Brittany Mitchell, investigadora do Instituto de Investigação Médica de Queensland (QIMR) Berghofer, na Austrália.

"Estudos maiores e mais inclusivos como este ajudar-nos-ão a desenvolver melhores tratamentos e intervenções, acabando por melhorar vidas e reduzir o impacto global da doença".

"Reforçará também as provas de que as doenças mentais têm uma base biológica tão forte como outras doenças, como as doenças cardíacas", salientou Mitchell, que faz parte da equipa que analisa os dados.

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