(Acrescenta comentário de gestor de fundos)
LISBOA, 6 Dez (Reuters) - O Tesouro português trocou 1.039 milhões de euros (ME) de 'bonds' que venciam em 2019 e 2020 por dívida a cinco e 10 anos com cupões mais baixos, capitalizando o forte apetite dos investidores para reduzir o custo médio de financiamento e alargar as maturidades.
O IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública a anunciou que recomprou 716 ME de 'bonds' que se iam vencer em Junho de 2019 e 323 ME de Junho de 2020. Estas linhas tinham cupões de, respectivamente, 4,75 pct e 4,8 pct.
Simultaneamente, colocou 715 ME de obrigações de Outubro de 2022 e 324 ME de obrigações que maturam em Abril de 2027. Os cupões da dívida colocada são de 2,2 pct e 4,125 pct, respectivamente.
Estas operações de troca de dívida permitem alargar as maturidades. Portugal continua apoiado pelo generoso programa de compra de obrigações do Banco Central Europeu que prosseguirá pelo menos até Setembro de 2017.
"No fundo, o que interessa aqui é que o Estado consegue estender o prazo da dívida, num momento em que as taxas de juro estão historicamente baixas", disse Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa, no Porto.
Adiantou que "o que esta operação tem de especial é que o menos conta são as taxas".
"Do ponto de vista da República Portuguesa o objetivo desta operação foi o de alongar o prazo de reembolso: o esforço de amortização que estava previsto para 2019 e 2020 é adiado para 2022 e 2027", disse.
Explicou que, "do ponto de vista do investidor, por razões de gestão de carteira, pode também fazer sentido optar por uma troca direta do que esperar pela amortização em 2019 ou 2020 e sujeitar-se ao risco de, na altura, não conseguir aplicar o mesmo montante em dívida pública portuguesa, em condições semelhantes às de hoje".
"É quase como uma ida do investidor ao mercado primário (hoje), dispensando-se de ter que rolar a carteira daqui a 2 ou 3 anos. Tratando-se de prazos diferentes, as taxas teriam que ser diferentes", referiu Filipe Silva.
No mercado secundário, a 'yield' da dívida soberana de Portugal a 10 anos segue num mínimo desde Abril de 2015, nos 1,86 pct, contra 1,9 pct no fecho anterior.
Os juros da dívida 'benchmark' da Grécia estão num mínimo de oito anos, nos 4,84 pct.
O Governo estima terminar o ano com o rácio de dívida pública a descer 4 pontos percentuais para 126 pct do PIB, visando os 123,5 pct no próximo ano.
O Governo projecta reduzir o défice para 1,1 pct do PIB em 2018, de 1,4 pct este ano e que a economia cresça 2,6 pct em 2017 e 2,2 pct em 2018. (Por Daniel Alvarenga; Editado por Sérgio Gonçalves)