Já se apuraram alguns potenciais culpados por detrás de um surto misterioso que afetou centenas de pessoas na República Democrática do Congo (RDC), mas a falta de material médico e os problemas logísticos estão a atrasar o estudo e o tratamento da doença na região remota.
De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), entre 24 de outubro e 5 de dezembro, registaram-se 406 casos de uma doença semelhante à gripe que não chegou a ser identificada, sobretudo em crianças com menos de cinco anos de idade, na província de Kwango.
A agência de saúde da ONU registou 31 mortes, mas as autoridades sanitárias do país dizem que, ao incluir os pacientes que morreram fora das instalações médicas, pelo menos 71 pessoas foram confirmadas como mortas.
A doença tem sintomas que incluem febre, dores de cabeça, tosse, corrimento nasal, fadiga e dores no corpo.
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Na semana passada, a OMS enviou uma equipa de resposta rápida para ajudar a identificar a causa das doenças e fornecer tratamento médico, mas são necessários dois dias para chegar à zona rural, por sua vez remota por estrada, e a estação das chuvas também atrasou a equipa, segundo a agência.
Não há laboratório na zona, o que significa que as amostras estão a ser enviadas para o laboratório nacional em Kinshasa, que fica a cerca de 700 km de distância, para serem analisadas.
“Estes desafios, juntamente com os diagnósticos limitados na região, atrasaram a identificação da causa subjacente”, afirmou a OMS.
Mesmo assim, a OMS disse que, com base nos sintomas das pessoas e no número de mortes até agora, as autoridades acreditam que a doença pode ser pneumonia aguda, gripe, COVID-19, sarampo ou malária.
Pode tratar-se de "mais do que uma doença”
A malária é uma doença comum na RDC, com mais de 30,5 milhões de casos registados em 2021, representando 12,3 por cento de todos os casos a nível mundial. Cerca de 79 000 pessoas morreram de malária nesse ano.“Nesta fase, também é possível que mais de uma doença esteja a contribuir para os casos e mortes”, disse a OMS.
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É provável que a desnutrição também esteja a desempenhar um papel importante, disse a agência, uma vez que todos os pacientes com doenças graves estavam desnutridos.
A insegurança política na região também está a complicar a resposta da saúde pública.
Mais de 100 grupos armados locais operam no Congo, segundo a Amnistia Internacional, e os confrontos entre os militares e os grupos rebeldes aumentaram desde que as eleições nacionais da RDC se tornaram violentas no ano passado.
“O potencial de ataques de grupos armados representa um risco direto para as equipas de resposta e para as comunidades, o que pode perturbar ainda mais a resposta”, afirmou a OMS.
A RDC só comunicou o surto a 29 de novembro, o que frustrou as autoridades sanitárias fora do país.
“Temos um atraso de quase cinco a seis semanas e, em cinco a seis semanas, muitas coisas podem acontecer”, disse o Dr. Jean Kaseya, disse o diretor-geral dos Centros Africanos de Controlo e Prevenção de Doenças (África CDC), aos jornalistas na semana passada.
Entretanto, a OMS afirmou que o risco da doença misteriosa é elevado na região local, mas moderado em toda a RDC e baixo em África e a nível mundial.