Por Sergio Goncalves
LISBOA, 2 Mai (Reuters) - A presidente do IGCP está optimista que as agências de 'rating' vão melhorar mais a notação financeira de Portugal, seguindo a percepção do mercado de que o país tem um risco inferior a Itália, o que deverá mitigar o impacto do esperado fim da política de 'quantitative easing' do BCE.
Cristina Casalinho, presidente do IGCP-Agência de Gestão de Tesouraria e da Dívida Pública, disse numa comissão parlamentar que o Banco Central Europeu (BCE) poderá abandonar a sua actual política 'ultra relaxada' em Setembro ou até Dezembro deste ano.
"Acreditamos que ainda há aqui algum espaço para melhoria (de ratings) e é esse espaço para melhoria que achamos que poderá isolar um bocadinho Portugal da saída do BCE das políticas não-ortodoxas", disse Cristina Casalinho.
A presidente do IGCP não acredita que o país esteja numa situação de 'steady state' em relação aos ratings.
"Se excluírmos Chipre e Grécia, só há dois países em BBB, que são Portugal e Itália, e o que vemos é que a leitura da percepção de mercado é que Portugal, de facto, terá um risco percepionado melhor que Itália ou pelo menos tão bom quanto a Itália", explicou.
"E essa realidade não está totalmente materializada nos ratings ou nas notações financeiras publicadas pelas principais agências de rating", afirmou.
Em menos de 1 ano, duas das quatro principais agências de rating colocaram o 'rating' de Portugal em 'investment grade' - a Fitch em BBB, estável; e a S&P em BBB-, estável -, enquanto a Moody's ainda mantém em 'lixo' - Ba1, positivo. A canadiana DBRS, mesmo durante o resgate, manteve sempre Portugal em 'grau de investimento', tendo um rtaing de BBB, estável.
Itália tem 'ratings' respectivos: BBB, estável pela S&P e pela Fitch; e Baa2 pela Moody's.
A 'yield' das Obrigações do Tesouro de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB segue a negociar nos 1,67 pct, contra 1,77 pct da taxa equivalente de Itália.
CUSTOS CAEM
A presidente do IGCP recordou que, "a partir de Abril de 2017, mas com mais significado a partir de Julho, houve uma queda muito significativa dos custos de financiamento da dívida portuguesa, que também favoreceu o alongamento de maturidades a partir dessa data".
"Houve uma queda absoluta das taxas e também uma convergência muito significativa a nível do diferencial face ao Bund", afirmou.
"Hoje em dia estamos a transaccionar para o Bund na ordem dos 100 pontos e em termos estruturais a partir de final do ano passado Portugal começou a transaccionar em níveis absolutos abaixo de Itália, uma situação que nunca se tinha observado e ao longo de todo o espectro de maturidades", sublinhou.
GESTORES FUNDOS REGRESSAM
Adiantou que, "ao longo do último ano, houve uma alteração significativa do perfil de investidores na dívida portuguesa e os gestores de fundos, que tinham durante a maior parte do ano de 2016 a vender, houve um regresso (destes) ao mercado".
"E agora já estamos em níveis positivos, de compras líquidas. Outro aspecto a assinalar é o envolvimento crescente por parte de seguradoras e de fundos de pensões que tradicionalmente são mais conservadoras, com perfis de maior qualidade", afirmou.
"Em contraponto, os que venderam foram bancos e sobretudo os grandes vendedores foram entidades domésticas", disse.
ESTABILIDADE COMPRAS
Adiantou que "o BCE privilegiou sempre a estabilidade de execução do programa", fisando: "quando o programa de compras era da ordem dos 80.000 ME, o BCE comprava entre 400 e 500 ME de dívida portuguesa mensalmente; quando foi reduzido dos 80.000 ME para os 60.000 ME, continuou a comprar a mesma coisa".
"E agora, quando foi reduzido para os 30.000 ME, manteve o mesmo padrão de compras e (o BCE) está agora em cima da chave de capital", referiu.
"Para patamares de compras de BCE abaixo de 20.000 ME aí teremos implicações, mas serão implicações no mercado português que são menores que nos esperamos que venha a acontecer noutras economias", disse.
O IGCP está a adoptar políticas para limitar a dependência das compras do BCE: "trabalhar com as agências de rating no sentido de melhorar, ter um risco de refinaciamento o mais gerível possível e continuar a permitir uma rotação saudável da base de investidores a que não é alheia a notação financeira".
"A partir do momento em que Portugal reentrou nos principais índices de obrigações mundiais e europeias, passa a haver um conjunto de investidores 'passivos', que de alguma forma substitui o comprador 'passivo' que era o BCE", concluiu.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)