Por David Lawder
WASHINGTON, 13 Abr (Reuters) - O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, disse na quarta-feira que o seu governo não classificará a China como manipuladora de moeda, recuando de uma promessa da sua campanha, apesar de afirmar que dólar norte-americano estava "a ficar muito forte" e acabaria por prejudicar a economia.
Numa entrevista ao The Wall Street Journal, Trump também disse que gostaria que as taxas de juros nos EUA permanecessem baixas -- outro comentário em desacordo com o que ele disse frequentemente durante a campanha eleitoral.
Um porta-voz do Tesouro norte-americano confirmou que o relatório semestral do Departamento do Tesouro sobre as práticas cambiais dos principais parceiros comerciais, que será divulgado nesta semana, não nomeará a China como manipuladora de moeda.
Os comentários de Trump sobre o dólar forte e as taxas de juro levaram a moeda norte-americana, os rendimentos dos Treasuries e as acções em Wall Street a recuarem.
Os comentários de Trump romperam uma prática de longa data de governos democratas e republicanos de se absterem de comentar sobre a política definida pela Federal Reserve, o independente banco central norte-americano.
Também é invulgar um presidente falar sobre o valor do dólar, que é um assunto normalmente deixado para o secretário do Tesouro dos EUA.
"Eles não são manipuladores de moeda", disse Trump ao jornal norte-americano sobre a China. A declaração marca uma mudança gritante em relação à postura adoptada durante a campanha presidencial, quando prometeu rotular Pequim de manipulador no primeiro dia de sua administração, como parte do seu plano para reduzir as importações de produtos chineses.
O Wall Street Journal parafraseou Trump ao dizer que mudou o seu pensamento sobre a questão da taxa de câmbio porque a China não tem manipulado o iuan por meses e porque a acção agora poderia comprometer as suas negociações com Pequim para confrontar a ameaça da Coreia do Norte.
Os Estados Unidos classificaram pela última vez a China como manipuladora de moeda em 1994.
O líder democrata do Senado, Chuck Schumer, disse que a decisão de Trump de quebrar a sua promessa de campanha contra a China foi "sintomática de uma falta de acção real e dura no comércio" contra Pequim.
"A melhor maneira de fazer com que a China coopere com a Coreia do Norte é ser duro com o comércio, que é a principal preocupação do governo da China", disse Schumer.
Trump também disse ao The Wall Street Journal que respeita a chair da Federal Reserve, Janet Yellen, e que ela não será "fritada" quando o seu mandato actual terminar em 2018.
Esse comentário também marca uma mudança em relação às suas críticas em relação a Yellen durante a campanha, quando disse que esta estava a manter as taxas de juros muito baixas. Em outras ocasiões, porém, Trump tinha dito que as taxas baixas eram boas, porque as taxas mais elevadas fortaleceriam o dólar e prejudicariam as exportações e os produtores norte-americanos.
"Acho que o nosso dólar está a ficar muito forte, e parcialmente isso é culpa minha, porque as pessoas têm confiança em mim. Mas isso está a doer - isso vai doer em última instância", disse.
"É muito, muito difícil competir quando se tem um dólar forte e outros países estão a desvalorizar a sua moeda", disse Trump na entrevista.
(Traduzido para português por Sérgio Gonçalves)