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Como combater o negócio milionário da arte roubada

Publicado 13.04.2022, 15:00
© Reuters.  Como combater o negócio milionário da arte roubada

Para a maioria das pessoas, é aos museus que vamos quando queremos ver obras de arte ou artefactos antigos. Mas aqueles que podem pagar preferem tê-las muito mais perto e são capazes de pagar milhões para exibirem peças exclusivas na sala de estar ou no escritório. As coleções de arte e antiguidades valem, globalmente, 50 mil milhões de dólares.

Mas quer se trate de uma pintura rara ou uma escultura única, há infelizmente um lado sombrio no mercado da arte - o comércio ilegal.

Uma atividade ilegal que vale milhares de milhõesO comércio ilegal de arte constitui cerca de 5% de toda a indústria. E embora isso possa parecer pouco, é um problema teimoso e crescente que está a manchar cada vez mais o mundo da arte.

Durante os piores surtos da pandemia, o mundo inteiro ficou confinado. Mas o mercado negro de antiguidades esteve mais ativo do que nunca, gerando 10 mil milhões de dólares em apenas dois anos.

Organizações como a UNESCO e a INTERPOL dizem-nos que, muitas vezes, há pouco dinheiro para as pessoas cuja subsistência depende de encontrar tesouros culturais e somas preocupantes estão a ser desviadas para financiar actividades criminosas. Embora haja um interesse crescente em coleccionar peças de arte, o comprador precisa de ter cuidado.

Como agência da ONU para a cultura e educação, a UNESCO tem liderado durante décadas os esforços globais na preservação do património cultural de uma forma segura.

Ernesto Ottone Ramirez é o Director-Geral Adjunto para a Cultura na UNESCO, explica-nos: "Desde há 20 ou 30 anos, tem havido uma mudança muito grande em algumas partes do mercado, o tráfico representa cinco por cento do mercado, com um enorme volume de dinheiro, visto o tráfico de antiguidades ter-se tornado mais fácil. Isso acontece em locais que são património mundial e outros que não sabemos. E acontece por uma razão muito específica - todos esses locais que ainda não foram descobertos ou que estão em processo de investigação não estão inscritos em nenhum documento, pelo que são antiguidades que não sabíamos que existiam".

Uma app contra o roubo de obrasA venda de antiguidades roubadas acontece a uma escala global, pelo que necessita de uma rede internacional para aplicar a lei. É aí que a INTERPOL intervém. A organização tem todo um departamento dedicado ao combate aos crimes contra a propriedade cultural, e mais recentemente, a INTERPOL reforçou os seus esforços para encontrar antiguidades, utilizando apenas um smartphone.

A INTERPOL intensificou os seus esforços lançando uma aplicação chamada ID-art, que pode ajudar na identificação destas chamadas "antiguidades de sangue".

Corrado Catesi, Chefe da Unidade de Obras de Arte da INTERPOL, diz-nos: "Uma vez que este é um fenómeno global, os países precisam de trabalhar em conjunto. O papel da INTERPOL é principalmente apoiar os nossos países membros e as nossas unidades especializadas neste campo. Uma ferramenta que desenvolvemos é a ID Art, a nossa primeira aplicação móvel. Com a aplicação móvel ID Art, pode compreender se um objecto está incluído na nossa base de dados. Se o objecto aparecer, significa que foi roubado. E há um botão vermelho que permite comunicar à INTERPOL o item encontrado. A ID Art é uma aplicação que é uma ferramenta perfeita para agentes policiais, funcionários da alfândega, comerciantes de arte, público em geral ou artistas. Em Espanha e na Roménia, por exemplo, algumas unidades especializadas já recuperaram objectos de arte graças à aplicação"

Enquanto a UNESCO e a INTERPOL estão a sensibilizar e a educar os colecionadores e o público sobre os bens culturais roubados, será possível fazer mais para reprimir o crime? Colocámos essa questão a Deborah Lehr da Antiquities Coalition.

"É uma questão muito importante. Tem de haver uma atualização na estrutura jurídica internacional. Esta atividade tem de ser vista como um crime e tem de haver penas pesadas. Se arrombar um local é crime, podemos comparar a compra de bens roubados ao arrombamento de um local arqueológico ou de um museu. É preciso ver que, muitas vezes, este dinheiro erve para apoiar o crime organizado. Além disso é, simplesmente, um crime contra a humanidade".

O comércio de obras de arte roubadas é um crime contra a humanidade.

Deborah Lehr Antiquities Coalition

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