Uma nova ferramenta de inteligência artificial (IA) poderá aumentar as hipóteses de homens com infertilidade severa terem filhos biológicos.
Atualmente, os que pretendem ser pais dependem de um processo em que os embriólogos procuram manualmente esperma viável em amostras recolhidas do paciente. Este método leva horas de trabalho cuidadoso.
A IA consegue identificar espermatozoides em segundos, concluiu um estudo liderado pelo embriólogo Dale Goss e pelo engenheiro biomédico Steven Vasilescu.
"A ferramenta SpermSearch pode dar uma oportunidade acrescida aos pacientes que têm muito poucas hipóteses de serem pais dos seus próprios filhos biológicos", diz Goss.
"O algoritmo melhora abordagens antiquadas que não são atualizadas há décadas. Vai assegurar a rápida identificação dos espermatozoides nas amostras, o que vai não só aumentar as hipóteses de um casal conceber os seus próprios filhos biológicos, como também reduzir o stress sobre os espermatozoides e aumentar a eficiência no laboratório", explica o especialista.
As conclusões foram apresentados na reunião anual da Sociedade Europeia de Reprodução Humana e Embriologia, em Copenhaga, na Dinamarca, esta terça-feira.
Os autores sublinharam que o estudo se baseia numa prova de conceito e que é necessário um ensaio clínico.
De seis horas a meros segundos
Cerca de 1% dos homens têm a forma mais grave de infertilidade, conhecida como azoospermia não obstrutiva, o que significa que não têm espermatozoides no sémen.
A doença afeta cerca de 5% dos casais que procuram tratamentos de fertilidade. Podem, no entanto, ter espermatozoides em pequenas quantidades nos testículos.
Atualmente, os homens com infertilidade severa que querem encontrar espermatozoides têm de se submeter a um procedimento em que é retirada uma amostra dos seus testículos.
A recolha é depois estudada por embriólogos, que identificam e extraem manualmente as células reprodutivas masculinas, para depois fertilizar os óvulos da parceira através de injeção intracitoplasmática de espermatozoides (ICSI).
Pode levar até seis horas para os especialistas encontrarem e isolarem espermatozoides em tecido humano. Quanto mais tempo o processo demorar, maior é a probabilidade de o esperma não ser viável.
O estudo explica como o SpermSearch consegue realizar esta pesquisa em segundos. Em seguida, os médicos apenas decidem se o esperma identificado pela IA está efetivamente presente e se é viável para ICSI.
Os resultados evidenciam ainda que o algoritmo é mais preciso do que médicos experientes na tarefa.
A ferramenta foi testada contra um embriólogo de alta precisão neste processo. Os investigadores concluíram que a IA conseguia identificar espermatozoides em menos de um milésimo do tempo gasto pelo especialista.
Para além disso, encontrou mais células reprodutivas masculinas: 611 em comparação com os 560 do embriologista.