LISBOA, 14 Out (Reuters) - Os investidores internacionais parecem não estar preocupados com a situação política em Portugal, após o Partido Socialista ter vencido as eleições gerais mas sem alcançar a maioria absoluta, sendo um bom indicador as yields nacionais continuarem abaixo das espanholas, disse a presidente do IGCP, Cristina Casalinho.
Segundo a RTP, a presidente do órgão que gere a dívida pública portuguesa adiantou que, desde as eleições gerais de 6 de Outubro, tem tido "muito poucos contactos com investidores", mas aqueles que teve "não pronunciam um grande nível de preocupação com a situação política portuguesa".
"A configuração do resultado eleitoral não parece ter suscitado grandes preocupações", afirmou Cristina Casalinho aos jornalistas, citada pela RTP.
A presidente do IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública afirmou que, "com as eleições espanholas a aproximarem-se vemos que houve uma inversão da posição relativa em termos de prémio de risco dos dois países".
"Portugal, hoje em dia, está a transacionar a um nível inferior, com taxas de juro mais baixas que Espanha, o que, de alguma forma, evidencia bem a perceção que os mercados, a reação que os investidores tiveram em relação aos resultados eleitorais. Podemos dizer que foi positiva", acrescentou.
A 'yield' das obrigações do tesouro de Portugal a 10 anos PT10YT=TWEB desceu hoje três pontos base (bp) para 0,17 pct, perto de mínimos históricos, que compara com 0,22% das taxas equivalentes espanholas. Portugal tem mantido taxas inferiores às espanholas desde as eleições de 6 de Outubro, enquanto Espanha vai ter mais um acto eleitoral a 10 de Novembro.
Com os resultados apenas de Portugal apurados, o PS venceu as eleições gerais de 6 de Outubro com 36,65% dos votos e elegeu 106 deputados, ficando 10 lugares aquém da fasquia de 116 para atingir a maioria absoluta no Parlamento.
O primeiro-ministro socialista indigitado António Costa mantém negociações com os dois partidos de extrema-esquerda, que estão dispostos a viabilizar o seu Governo minoritário, mas é quase certo que não haverá acordos escritos para a estabilidade durante a legislatura de 4 anos, como ocorreu em 2015.
Apesar de ser mais arriscado, um Governo minoritário poderia libertar as mãos a António Costa para aprovar leis com o PSD de centro-direita, que também defende a disciplina orçamental e a redução da dívida.
O Partido Comunista Português (PCP) já disse que agora não assina qualquer acordo e a líder do Bloco de Esquerda, Catarina Martins, na sexta-feira passada, acusou o PS de não querer um acordo escrito pois não aceita a reversão da liberalização da lei laboral imposta no 'bailout' - uma das exigências do Bloco.
Assim, ao contrário da aliança com acordos firmados pelos socialistas com os partidos à sua extrema-esquerda - conhecida por Geringonça - que vigorou nos últimos quatro anos, o PCP e o Bloco deverão negociar o seu apoio medida-a-medida.
"A Geringonça morreu...o PS não quer fazer um acordo do tipo que tivemos nos ultimos 4 anos...nós cá estaremos para negociar cada Orçamento, caso-a-caso, disse Catarina Martins.
Mas, o secretário de Estado dos Assuntos Parlamentares e um dos negociadores socialistas Duarte Cordeiro disse depois que "para o PS a 'Geringonça' não morreu" e há total disponibilidade para continuar a trabalhar nos termos em que trabalharam nos últimos quatro anos.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)