(Acrescenta citações gestores de dívida, traders)
Por Sergio Goncalves e Daniel Alvarenga e Patricia Vicente Rua
LISBOA, 14 Set (Reuters) - Portugal colocou o montante mínimo previsto de 750 milhões de euros (ME) de Obrigações do Tesouro (OT) a 20 e sete anos, com o IGCP a 'gerir' o leilão e a recusar pagar taxas muito altas, num contexto de subida dos juros soberanos europeus e quando Portugal prepara um exigente Orçamento de Estado para 2017.
O IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública colocou uns tímidos 250 ME de OT a 20 anos e 500 ME a sete anos. O montante indicativo era entre 750 e 1.000 ME.
A taxa de colocação das OT a 20 anos situou-se em 4,04 pct, contra 4,08 pct a que os bonds com maturidade em 2037 PT20YT=RR estão a negociar em secundário, mas acima dos 3,234 pct da última colocação destes a 14 de Outubro de 2015.
O IGCP colocou a emissão a sete anos à taxa de 'allotment' de 2,817 pct, que compara com 2,355 pct do úlitmo leilão de bonds a seis anos realizado a 13 de Julho.
"Acho que, como as taxas subiram nos últimos dias, o IGCP fez uma 'gestão' desta colocação e escolheu colocar no limite inferior do intervalo indicativo, aceitando apenas taxas que considera razoáveis", disse Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa, no Porto.
Ricardo Marques, trader de dívida da IMF-Informação de Mercados Financeiros, em Lisboa, concordou que, "se o Tesouro tivesse considerado as taxas muito boas, tinha colocado os 1.000 ME, que era o montante máximo previsto".
Filipe Silva destacou que, "apesar de, nos últimos dias se ter falado muito de um eventual segundo resgate, Portugal ainda continua a ter taxas que beneficiam das compras do BCE".
"O prémio de risco de Portugal aumentou, mas as taxas em primário estão alinhadas com as do secundário".
MAIS RISCOS
Lyn Graham-Taylor, estrategista de dívida do Rabobank, em Londres, lembrou que, "enquanto as yields de Espanha e Itália não se moveram muito nas últimas sessões apesar dos riscos políticos, Portugal tem enfrentado um pouco mais de pressão que outros países".
Adiantou que na base desta pressão também estão "preocupações com o enquadramento político, que não é particularmente propício a tomar decisões difíceis".
"Além disso, também há pressão da discussão sobre a recapitalização dos seus bancos e a potencial revisão da notação pela DBRS que, se cortasse o 'rating' soberano, o que é pouco provável, forçaria o BCE a encontrar forma de dar a volta para continuar a comprar obrigações portuguesas", afirmou Lyn Graham-Taylor.
"Dados estes riscos, o leilão correu bastante bem, com 'yields' decentes e um bom 'bid-to-cover'".
Na colocação do 'bond' com maturidade em 2037, a oferta superou 2,63 vezes a procura, quando em Outubro de 2015 o rácio 'bid-to-cover' se fixou em 1,85 vezes.
Quanto à emissão de dívida a sete anos, o 'bid-to-cover' situou-se em 1,68 vezes contra 1,46 vezes.
"Nos últimos dias assistimos a uma subida de taxas em toda a curva europeia e Portugal também foi prejudicado um pouco com isso", recordou Filipe Silva.
Esta manhã, os juros soberanos europeus estão a subir depois da membro do 'board' do Banco Central Europeu (BCE), Sabine Lautenschlaeger, ter dito que o banco central deveria adiar novas medidas de flexibilização monetária. que tem reiterado que cumprirá o objectivo de cortar o défice para 2,5 pct do PIB imposto por Bruxelas para 2016, está a preparar o Orçamento de Estado (OE) para 2017, que é visto por agências de 'rating' e por analistas como muito exigente.
O Governo quer continuar a trajectória de consolidação orçamental em 2017, mas os analistas realçam que a manutenção da política de aumento de rendimento das famílias é cada vez mais complicada, sobretudo num contexto em que o crescimento económico é anémico.
ALINHADAS SECUNDÁRIO
Filipe Silva explicou que "os investidores acabaram por 'alinhar' as carteiras em função do que o mercado vai fazendo e por fazer alocações em maturidades mais longas".
Portugal está numa posição de financiamento confortável e o risco de poder haver um segundo resgate financeiro é baixo, disse ontem a agência de 'rating' Moody's, que vê o país a cortar o défice público para abaixo dos 3 pct do PIB em 2016.
Numa nota, a Moody's realçou que espera que o Orçamento para 2017 seja aprovado com o apoio do Bloco de Esquerda (BE) e do Partido Comunista Português (PCP) dado que estes "têm poucos incentivos em forçar eleições antecipadas".
Lembrou que, em Junho último, Portugal tinha uma "grande 'almofada' de liquidez de cerca de 12.000 milhões de euros (ME) ou 6,5 pct do PIB face ao seu target de fim do ano de 6.400 ME e à amortização de 4.200 ME de um Bond em Outubro.
"De acordo com o seu plano de financiamento, o Governo visa emitir mais 4.400 ME antes do final do ano", disse.
Recordou que "o Banco Central Europeu (BCE) comprou até agora em torno de 1.100 ME de bonds portugueses, como parte do seu programa de Quantitative Easing (QE)".
(Por Sérgio Gonçalves, Daniel Alvarenga e Patrícia Vicente Rua; Escrito por Sergio Goncalves; Editado por Daniel Alvarenga e Patrícia Vicente Rua)