Se está a trabalhar arduamente para receber pouca recompensa no seu emprego, não é apenas com a baixa satisfação profissional que deve preocupar-se.
Uma nova investigação sugere que os homens que trabalham arduamente em empregos stressantes e não recebem recompensa suficiente pelos seus esforços podem correr o dobro do risco de sofrer de doenças cardíacas em comparação com os homens que não sofrem de stress.
Os resultados foram publicados na revista Circulation, da American Heart Association. Os investigadores salientam que estudos anteriores demonstraram que a tensão no trabalho e o desequilíbrio entre esforço e recompensa podem aumentar o risco de doença cardíaca, mas os efeitos combinados não foram estudados em pormenor.
"Tendo em conta a quantidade significativa de tempo que as pessoas passam no trabalho, compreender a relação entre os fatores de stress no trabalho e a saúde cardiovascular é crucial para a saúde pública e o bem-estar da força de trabalho", afirmou a autora principal do estudo, Mathilde Lavigne-Robichaud, candidata a doutoramento no Centro de Investigação CHU da Quebec-Universidade Laval, no Quebec, Canadá.
"O nosso estudo salienta a necessidade premente de abordar proativamente as condições de trabalho stressantes, a fim de criar ambientes de trabalho mais saudáveis que beneficiem os trabalhadores e os empregadores."
Os últimos dados disponíveis da Rede Europeia do Coração mostram que as doenças cardiovasculares são a principal causa de morte nos homens em todos os países da Europa, com exceção de 12, sendo responsáveis por cerca de 3,9 milhões de mortes no continente. Entretanto, nos EUA, é a principal causa de morte, de acordo com a Associação Americana do Coração.
Os investigadores analisaram cerca de 6500 trabalhadores de colarinho branco, com uma idade média de 45 anos, que ainda não sofriam de doença cardíaca. Seguiram 3118 homens e 3347 mulheres de 2000 a 2018. Estudando informações de inquéritos sobre a saúde e o local de trabalho dos trabalhadores, mediram a tensão no trabalho e o desequilíbrio esforço-recompensa.
Os homens que referiram sofrer de tensão no trabalho ou de desequilíbrio esforço-recompensa apresentaram um risco 49% superior de doença cardíaca em comparação com os que não tinham esses problemas. Os homens que referiram empregos stressantes e falta de recompensa corriam o dobro do risco de sofrer de doenças cardíacas em comparação com os que não tinham os fatores de stress combinados.
Este impacto foi considerado semelhante ao da obesidade no risco de doença coronária.
No entanto, não foi conclusivo se estes fatores de stress no trabalho afetavam ou não a saúde cardíaca das mulheres.
"Fatores de stress associados a outros problemas de saúde"
"O stress no trabalho refere-se a ambientes de trabalho em que os trabalhadores se deparam com uma combinação de elevadas exigências profissionais e pouco controlo sobre o seu trabalho. As elevadas exigências podem incluir uma carga de trabalho pesada, prazos apertados e inúmeras responsabilidades, enquanto o baixo controlo significa que o trabalhador tem pouca influência na tomada de decisões e na forma como executa as suas tarefas", explicou Lavigne-Robichaud.
"O desequilíbrio esforço-recompensa ocorre quando os trabalhadores investem muito esforço no seu trabalho, mas consideram que as recompensas que recebem em troca - como o salário, o reconhecimento ou a segurança no emprego - são insuficientes ou desiguais em relação ao esforço.
"Por exemplo, se estivermos sempre a ir acima e além, mas sentirmos que não estamos a receber o crédito ou as recompensas que merecemos, chama-se a isso desequilíbrio esforço-recompensa."
Uma das limitações do estudo é o fato de os trabalhadores estarem sediados principalmente no Quebec, Canadá, pelo que podem não representar a diversidade de experiências da população trabalhadora norte-americana.
"Os nossos resultados sugerem que as intervenções destinadas a reduzir os fatores de stress do ambiente de trabalho podem ser particularmente eficazes para os homens e podem também ter implicações positivas para as mulheres, uma vez que estes fatores de stress estão associados a outros problemas de saúde prevalecentes, como a depressão", afirmou Lavigne-Robichaud.
A natureza inconclusiva dos resultados para as mulheres mostra a necessidade de mais investigação, acrescentou.
A investigadora recomendou intervenções como a disponibilização de recursos de apoio, a promoção do equilíbrio entre a vida profissional e a vida privada, o reforço da comunicação e a atribuição de maior controlo aos trabalhadores sobre o seu trabalho.