Por Sergio Goncalves
LISBOA, 30 Jan (Reuters) - O primeiro-ministro António Costa disse que mantém total confiança no ministro das Finanças Mário Centeno, que não sairá do Governo em nenhuma circunstância, após buscas policiais ao seu Ministério alegadamente por ter aceite dois bilhetes para um jogo do seu clube Benfica.
A Procuradoria Geral da República confirmou a realização de buscas, na sexta-feira, "para recolha de prova documental no âmbito de um inquérito em investigação no Departamento de Investigação e Ação Penal de Lisboa", frisando que "o inquérito não tem arguidos constituídos e está em segredo de justiça".
Acerca de Mário Centeno, que em 13 de Janeiro foi eleito presidente do Eurogrupo, o primeiro-ministro frisou: "é uma pessoa de enorme dignidade e seriedade, tem prestado serviços de grande relevância para o país, em quem mantenho toda a confiança e que, em circunstância alguma, sairá do Governo".
"Eu queria deixar tranquilos os portugueses (...) mesmo que seja constituído arguido não vejo nenhum motivo para que saia do Governo e não sairá do Governo", afirmou António Costa aos jornalistas.
"Gostaria também de dizer, porque internacionalmente esta notícia tem tido muita repercussão - tendo em conta as funções de presidente do Eurogrupo que (...) exerce - que o que está em causa não põe, de forma alguma, em causa o bom nome, a credibilidade e a seriedade do professor Mário Centeno".
António Costa afirmou que a Justiça fará as investigações que entender e o Governo dará toda a colaboração.
"Mas, quero deixar muito claro que quem decide a composição do Governo sou eu", sublinhou o primeiro-ministro.
DOIS BILHETES
O Ministério das Finanças reconheceu que o ministro Mário Centeno obteve dois bilhetes de acesso especial ao camarote presidencial para um jogo do Benfica contra o Porto em Abril passado, mas disse que eram necessários por razões de segurança.
Os bilhetes não violaram as regras dos membros do Governo sobre aceitação de presentes de até 150 euros porque aqueles não podem ser comprados ou vendidos, afirmou.
Os media têm referido que a investigação do DIAP visa o alegado papel do presidente do Sport Lisboa e Benfica, Luís Filipe Vieira, na obtenção de uma isenção de IMI (LON:IMI) de um prédio do seu filho e o pedido de Centeno daqueles dois bilhetes para assistir ao jogo do Benfica contra o Porto.
O Ministério negou qualquer contacto entre Centeno e Luís Filipe Vieira sobre esta isenção e descartou qualquer sugestão de interferência do Governo, lembrando que as isenções de IMI são decididas pelas câmaras municipais e não pelas Finanças.
RIDÍCULO
"Quem tenha lido o que tem aparecido nos jornais percebe a dimensão do ridículo de haver qualquer investigação a propósito de uma ida a um jogo de futebol", disse o primeiro-ministro.
"Ou fazer qualquer tipo de acusação relativamente a decisões que não competem ao Governo, mas competem exclusivamente a outras entidades, como seja o município de Lisboa", acrescentou.
O primeiro-ministro referia-se à atribuição da isenção de IMI-Imposto Municipal sobre Imóveis ao prédio do filho do presidente do Benfica, Luís Filipe Vieira, que é da competência da Câmara Municipal de Lisboa.
O primeiro-ministro lembrou que, "nos camarotes dos jogos oficiais muitas vezes há convites por parte dos clubes", frisando: "eu próprio estava nesse jogo a assistir".
"E considero um insulto para quem convida e um insulto para quem é convidado poder-se sequer pressupor que quer o convite, quer a aceitação do convite possa diminuir, de qualquer forma, a capacidade de isenção e de idoneidade", concluiu António Costa. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)