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Por Daniel Alvarenga e Patricia Vicente Rua
LISBOA, 31 Ago (Reuters) - Portugal colocou 1.000 milhões de euros (ME) de 'Bonds' a cinco e a 10 anos, com a taxa do 'benchmark' de longo prazo a cair face ao leilão interior, reflectindo um contido risco soberano, ajudado pelos estímulos do BCE e apesar das dúvidas de algumas agências de notação sobre a trajectória do país.
O IGCP-Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública adiantou que colocou 450 ME em OT a cinco anos e 550 ME a 10 anos. O montante indicativo global era entre 750 ME e 1.000 ME.
Na maturidade a 10 anos, a taxa 'allotment' situou-se em 3,027 pct contra 3,093 pct num leilão em 13 de Julho, enquanto a taxa dos cinco anos fixou em 1,870 pct versus 1,843 pct no leilão anterior com maturidade semelhante.
"O risco português não aumentou face aos últimos leilões. Tem andado estável e, nos últimos quatro meses, temos pago mais ou menos o mesmo nas emissões de longo prazo, apesar das dúvidas das agências de 'rating'", disse Filipe Silva, gestor de dívida do Banco Carregosa, no Porto.
"As taxas têm acompanhado muito a evolução da restante (dívida) europeia e ainda não houve nenhum acontecimento que tenha assustado os investidores".
No mercado secundário, as 'yields' dos Bonds portugueses a 10 anos estão a negociar nos 3,05 pct, a subirem dois pontos base face ao fecho. Na maturidade a cinco anos os juros sobem 3 pontos base para 1,91 pct.
Os juros da maturidade 'benchmark' estão ainda distantes do máximo de 2016 tocados em Fevereiro, nos 4 pct.
O prémio de risco da maioria dos soberanos europeus segue hoje em leve alta no mercado secundário, com a crescente aposta que a próxima subida das taxas de juro pela Fed aconteça ainda em 2016, tornando a política monetária mais restritiva.
Espanha é outro foco, com os juros a agravarem antes de um voto no parlamento que poderá aproximar Espanha de uma terceira ronda de eleições no espaço de apenas um ano. ATENTOS
"Acho que, acima de tudo, as contas de Portugal estão a ser muito supervisionadas pelas entidades europeias e, enquanto isso se mantiver, não há motivo para as yields portuguesas começarem a escalar", vincou Filipe Silva, do Carregosa.
"Esta operação pode considerar-se como bem sucedida, uma vez que cumpriu os objectivos propostos pelo IGCP com o montante máximo colocado, demonstrando que os investidores continuam a acreditar no bom desempenho da economia portuguesa", disse José Lagarto, gestor de activos da Orey Financial, em Lisboa.
Lisboa tem estado no foco dos investidores por causa da execução orçamental, mas a 25 de Agosto o Ministério das Finanças anunciaram o défice público foi reduzido em 10 pct para 4.980,6 ME nos primeiros sete meses do ano, melhor que o previsto no Orçamento de Estado (OE) para 2016.
Entre Janeiro e Julho de 2016, Portugal teve um excedente primário, que exclui pagamento de juros de dívida, de 316 ME, ou seja uma melhoria de 901 ME face ao mesmo período de 2015. em conta os resultados do leilão em Iália, há dois dias, para as mesmas maturidades, este nosso leilão não sendo mau, não me parece extraordinário", segundo Ricardo Marques, trader de dívida da consultora IMF-Informação Mercados Financeiros.
"Na verdade, esperava maior apetite por parte dos investidores pelas yields periféricas. Os preços a que saíram não mostram grande interesse. Esperava taxas mais baixas".
Ricardo Marques, da IMF, acrescentou que, "nos 5 anos, por exemplo, emitimos pior face a Junho, o que significa que a percepção de risco de Portugal não se alterou, enquanto em outros países melhorou", frisou Ricardo Marques.
O IGCP referiu que o rácio 'bid-to-cover' da linha a cinco anos foi 2,15 vezes face às 1,98 vezes do último leilão, e a procura excedeu 1,72 pct a oferta na colocação a 10 anos contra 1,49 pct antes.
O INE anunciou hoje que a economia de Portugal cresceu em cadeia uns anémicos 0,3 pct no segundo trimestre de 2016, com a fraca procura interna a perder fôlego face ao primeiro trimestre, mas as exportações líquidas deram um contributo positivo. O Instituto Nacional de Estatística reviu em leve alta a sua estimativa anterior. (Escrito por Daniel Alvarenga; Reportagem adicional de Sérgio Gonçalves; Editado por Sérgio Gonçalves)