(Repete notícia divulgada ontem ao final da tarde)
* PCP e Bloco querem Novo Banco fique na esfera pública
* Partido Socialista diz nada está decidido
* Partidos centro-direita contra nacionalização, seria ruinoso
* Banco Portugal disse Lone Star favorito processo venda
* Negociações continuam também com Apollo/Centerbridge e Minsheng
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 13 Jan (Reuters) - O Partido Comunista Português (PCP) e o Bloco de Esquerda (BE), que suportam o Governo minoritário socialista no Parlamento, estão contra a venda do 'good bank' Novo Banco a um fundo 'abutre' e exigem a sua nacionalização, aumentando a pressão política quando Portugal tem em curso o processo de venda.
No Parlamento, Mariana Mortágua, deputada do Bloco de Esquerda referiu que "as propostas de compra não são só vender o terceiro maior banco do país a um fundo abutre, trata-se de pagar para entregá-lo a um fundo abutre, e isso é inaceitável".
"A única solução que protege o Novo Banco e o país é a nacionalização", afirmou neste debate parlamentar pedido pelo PCP, o BE e o Partido Social Democrata (PSD).
Miguel Tiago, deputado do PCP, frisou que "é cada vez mais clara a necessidade de uma decisão sobre o Novo Banco que o mantenha na esfera pública".
"Se o Governo do Partido Socialist (PS) decidir prvatizar o Novo Banco, independentemente do valor da venda, o Estado, a Lei e os recursos públicos serão, uma vez mais, usados para transferir os prejuízos privados para dentro da dívida pública".
Portugal está numa corrida contra o tempo para vender o 'good bank' que nasceu dos escombros do Banco Espírito Santo (BES), 'resolvido' em 2014, pois Bruxelas fixou Agosto como prazo limite para a venda.
NADA DECIDIDO
A 9 de Janeiro, o ministro das Finanças disse, em entrevista à Reuters, que o Governo mantém a aposta na venda do 'good bank' Novo Banco, mas está fora de questão dar quaisquer ajudas de Estado a potenciais interessados, não estando descartada a nacionalização. debate parlamentar, o líder da bancada socialista, João Galamba, disse que, "se um vendedor disser a um comprador que não tem alternativa, se calhar não é bom para o vendedor", frisando: "a posição de princípio do PS é a salvaguarda do interesse patrimonial do Estado e dos contribuintes".
"Ela não fecha à partida uma venda ou uma nacionalização.
Faremos aquilo que for melhor e, em princípio, não há nada que determine que a nacionalização seja uma posição melhor ou que a venda seja uma posição melhor", afirmou João Galamaba
"Depende das propostas, depende do comprador e daquilo que o comprador proponha fazer com o banco. O PS não tem uma posição dogmática sobre o Novo Banco", vincou este deputado socialista.
O Banco de Portugal (BP) anunciou a 4 de Janeiro que a Lone Star, 'private equity' dos EUA, é a melhor posicionada para vencer a corrida à compra do Novo Banco e que ia entrar em negociações aprofundadas, apesar do processo negocial prosseguir com os outros candidatos que se mostraram disponíveis para melhorar ofertas.
No início de Dezembro, o banco central não identificou os candidatos, mas fontes disseram à Reuters que os três concorrentes que estavam à frente na corrida eram o chinês Minsheng, a Apollo/Centerbridge e a Lone Star.
ABUTRES
A deputada do BE Mariana Mortágua disse que, "se o Novo Banco for vendido, praticamente 70 pct da banca portuguesa de relevo ficará em mãos estrangeiras", adiantando: "só a propriedade pública garante o controlo de sectores estratégicos a partir de Portugal".
"Se a venda de mais um banco a capitais estrangeiros seria uma ideia errada e perigosa, o que dizer da sua entrega a fundos de investimento, verdadeiros 'abutres' como a Apollo ou a Lone Star", perguntou esta deputada.
"O que pretendem é desmontar a 'carcaça' do Novo Banco, executar empresas devedoras, sugar o máximo de recursos o mais rápido que puderem", acrescentou.
O deputado comunista Miguel Tiago afirmou que "a resposta a dar aos problemas do sistema financeiro, nomeadamente no que toca ao Novo Banco, não se encontra na solução que gerou o problema - ou seja na gestão privada da banca e no alheamento do Estado".
"O caminho e as respostas estão no controlo público da banca, numa perspectiva de defesa e afirmação do interesse do povo e do país", acrescentou.
DIREITA CONTRA NACIONALIZAÇÃO
Contudo, os partidos do centro-direita mostraram-se completamente contra a nacionalização.
"Querem o banco nacionalizado para fazer o quê?", perguntou o deputado do CDS-Partido Popular, João Almeida.
"Não se pode manter o processo de venda em curso e depois parecer estar a trocer, em silêncio, para que a nacionalização se concretize. Essa posição do PS pode custar milhares de milhões de euros aos portugueses".
"Nós não alinhamos nesta estratégia totalmente suicida e irresponsável do PS (...) Não contem connosco para aventuras ruinosas, para repetir erros que cometeram no passado" ", disse o deputado social-democrata Marco António Costa.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)