LISBOA, 10 Nov (Reuters) - As fortes quedas da família EDP (SA:ENBR3) e da Jerónimo Martins levaram Lisboa a cair 1,74 pct e a liderar as quedas numa Europa que acabou por ser abalada por um 'sell-off' nos títulos mais defensivos, enquanto os juros soberanos dispararam com a perspectiva de um aumento da inflação com as novas políticas de investimento e proteccionistas de Trump, segundo dealers.
* O índice pan-europeu STOXX 600 .STOXX fechou com uma queda de 0,14 pct, depois de ter negociado em alta durante grande parte da sessão, tendo inclusivé tocado em máximos de duas semanas.
* O sector financeiro e o de recursos básicos foram os únicos a fechar em alta. A banca continua a beneficiar das propostas de Donald Trump para a economia norte-americana, nomeadamente uma menor regulação do sector financeiro, corte de impostos corporativos e um aumento do investimento em infraestruturas e defesa.
* Pela negativa sobressaem as quedas fortes das utilities e do retalho, nomeadamente o alimentar, pelo estatuto defensivo que estes títulos têm, numa altura em que os investidores voltam a mostrar grande apetite pelo risco.
* Depois de ajustarem ao choque que foi a vitória de Donald Trump nas presidenciais norte-americanas, os mercados esperam agora uma mudança face às políticas de austeridade.
Os investidores estão a olhar para as políticas de Trump, como o investimento em infraestruturas e defesa, cortes de impostos e desregulação da banca, como sendo mais amigas dos negócios do que as da democrata Hillary Clinton que manteria o 'status quo'.
"Os mercados estão a ajustar-se a uma nova realidade e estão a dar a Trump o benefício da dúvida", disse Adam Sarhan, diretor executivo da Sarhan Capital.
"Ele tem alguns problemas com a imigração e com questões sociais, mas suas políticas económicas, pelo menos no curto prazo, são percebidas como estimulantes e boas para a economia".
* O euro EUR= cai 0,26 pct face à moeda norte-americana que por sua vez tocou em máximos de três meses e meio face ao iéne japonês, divisa vista como activo refúgio.
* Em Lisboa, as fortes quedas da família EDP e da Jerónimo Martins levarma o índice a liderar as quedas na Europa.
* A EDP EDP.LS tombou 4,96 pct e a EDP Renováveis EDPR.LS afundou 5,82 pct. Ontem, a EDPR já tinha caído quase 6 pct, com os investidores nervosos sobre o impacto de eventuais alterações de política energética nos EUA sob a futura Presidência de Donald Trump, onde a unidade de renováveis tem quase metade da sua capacidade instalada e beneficia de vários incentivos fiscais.
* Também em queda, a Jerónimo Martins JMT.LS recuou 3,33 pct e a REN RENE.LS 2,05 pct.
* Do lado dos ganhos, claro destaque para o disparo de 4,45 pct da Sonae (LS:YSO), após resultados que surpreenderam.
O lucro do conglomerado subiu inesperadamente para 61 milhões de euros (ME) no terceiro trimestre de 2016, com um aumento muito superior ao esperado das vendas no retalho e melhores resultados financeiros, a mais que compensarem a ligeira quebra da margem face ao período homólogo. entrevista à Reuters, o Chief Corporate Center Officer disse que a Sonae vai continuar activa com operações de 'sale & leaseback' que têm permitido libertar capital e que, após os recentes descontos, vê os actuais preços dos supermercados Continente num "ponto de equilíbrio". O Millennium BCP BCP.LS somou 2,35 pct, em linha com o disparo de 2,25 pct do sector financeiro na europa .SX7P .
A qualidade dos activos do Millennium bcp BCP.LS melhorou no terceiro trimestre de 2016, assim como a cobertura de crédito malparado, o que é uma boa notícia, segundo o Jefferies, que alerta contudo para as dúvidas sobre o capital do banco, que voltou a deteriorar-se face aos prejuízos. BCP teve um prejuízo de 251 ME nos primeiros nove meses de 2016 contra um lucro de 264,5 ME há um ano, com fortes imparidades de crédito malparado para limpar o balanço. SOBERANOS DISPARAM
A 'yield' das Obrigações portuguesas a 10 anos dispara 13 pontos base (pb) para 3,41 pct, acompanhando a subida do prémio de risco dos pares europeus para máximos de vários meses, com a aposta que as futuras políticas comerciais proteccionistas e de investimento público de Donald Trump venham a fomentar a inflação.
A inflação é vista tradicionalmente como uma das principais penalizadoras do retorno no mercado de 'fixed income'.
Os investidores parecem também mais confiantes que a Reserva Federal dos Estados Unidos subirá as taxas de juro em Dezembro e continuam atentos à possibilidade do Banco Central Europeu ponderar a reversão das suas medidas de estímulo monetário.
(Por Patrícia Vicente Rua; Editado por Sérgio Gonçalves)