Por Sergio Goncalves
LISBOA/GOA, 12 Jan (Reuters) - O Governo da Índia e os seus empresários estão interessados em usar Portugal como parceiro estratégico para entrarem na União Europeia (UE), no quadro da saída do Reino Unido da UE, disse o primeiro-ministro António Costa, que também vê oportunidades de investimento para as empresas portuguesas naquele país.
Afirmou que a visita de Estado que está a fazer à Índia, como a que realizou à China, ocorrem no início do seu mandato dado que "visam abrir um caminho, que é preciso dar continuidade", frisando: "da parte das autoridades (da Índia) há um enorme empenho nisso".
"O primeiro ministro (Narenda) Modi foi inexcedível nos sinais que deu de utilizar Portugal como parceiro estratégico para a cooperação com países terceiros, em particular com a União Europeia (UE) no quadro do Brexit", disse em declarações aos jornalistas televisionadas pela SIC Notícias.
"É preciso agora sabermos aproveitar a porta que ficou aberta para fazer o caminho que há a fazer", disse António Costa, reconhecendo que a sua origem indiana criou "um outro clima".
Lembrou que esta "é a primeira vez que um primeiro-ministro em 40 anos visita Goa", que chegou a ser a capital da Índia Portuguesa e que esteve nas mãos dos portugueses entre 1505 e 1961.
O Governo socialista tem dito que, a par da política de reposição de rendimento das famílias, quer manter a aposta na atracção de investimento - o 'calcanhar de Aquiles' da economia desde há muitos anos -, nomeadamente estrangeiro.
Simultâneamente, o Executivo visa continuar a estimular as exportações, que foram o suporte da economia nos recessivos anos do recente resgate externo e que têm batido recordes.
No terceiro trimestre de 2016, Portugal foi o país da zona euro que mais cresceu, tendo o PIB português tido um crescimento homólogo surpreendente de 1,6 pct, estimando o Governo que tenha crescido 1,2 pct em todo 2016 e visando os 1,5 pct em 2017.
ÍNDIA QUER
António Costa afirmou que, não só o Governo indiano, como os empresários indianos, que ele e os seus ministros contactaram, mostraram grande interesse por Portugal.
"Quer os contactos com as autoridades políticas, quer nos 'foruns' com empresários, quer os contactos que os ministros da Defesa, da Economia, da Ciência foram mantendo sectorialmente dão-nos boas perspectivas de que a porta ficou aberta e que há disponibilidade para utilizá-la".
Adiantou que "há vários produtores de Bollywood que têm mostrado muito interesse em utilizar Portugal como plataforma de produção na Europa de filmes indianos".
Realçou que, na área cientifica, há "grande interesse" da agência espacial indiana e do instituto de oceanografia de Goa, com o qual Portugal trabalha desde 1998, em participar num plano estratégico do Governo relacionado com o estudo da oceanografia e do espaço ligado às alterações climáticas a partir dos Açores.
"Temos vindo a procurar parceiros de diversas regiões do mundo (...) e encontrámos da parte, quer da agência espacial, que do instituto uma grande vontade de aprofundar esses laços".
"Todos verificaram que do lado das energias renováveis há grande interesse em trabalhar connosco, num reconhecimento do pioneirismo que Portugal tem tido nessa área", afirmou.
Acrescentou que "há muito interesse também no que diz respeito às infraestruturas e o Governo indiano tem um programa gigantesco de investimento em infraestruturas nos próximos anos na Índia - rodoviárias, transportes, gestão de águas, resíduos".
"São grandes oportunidades para as empresas portuguesas visto que, ao longo deste últimos 30 anos, acumulámos saber e capacidade de fazer", concluiu. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)