VIENA, 25 Jun (Reuters) - A Organização dos Países Exportadores de Petróleo (OPEP) acertou no sábado um acordo com a Rússia e outros países aliados produtores da commodity para aumentar a produção a partir de julho e a Arábia Saudita afirmou que o aumento da oferta será "mensurável".
A OPEP tinha anunciado na sexta-feira um acordo apenas com membros da entidade e também não revelou detalhes sobre metas de produção. No sábado, países que não integram o grupo concordaram em participar do acordo, mas números concretos não foram revelados num comunicado divulgado após as discussões em Viena.
O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, estava entre os que estavam interessados em saber em quanto mais a produção da OPEP será elevada. "Espero que a OPEP aumente a produção substancialmente. Precisamos manter os preços baixos!", escreveu Trump no Twitter após o anúncio da OPEP na sexta-feira.
EUA, China e Índia querem que os produtores de petróleo elevem a produção para evitar um déficit que poderia afectar o crescimento económico global.
O ministro saudita da Energia, Khalid al-Falih, afirmou que OPEP e outros países que não fazem parte do grupo vão aumentar a produção em 1 milhão de barris por dia nos próximos meses, o equivalente a 1 por cento da oferta global. A maior exportadora global, Arábia Saudita, vai ampliar a produção em centenas de milhares de barris, afirmou o ministro, comentando que o número exacto será decidido posteriormente.
O ministro da Energia da Rússia, Alexander Novak, afirmou que o seu país vai elevar a produção em 200 mil barris diários no segundo semestre deste ano.
Questionado em que medida a decisão de aumento da produção se deve à pressão de Trump, Novak respondeu: "É óbvio que não estamos a ser guiados por tuítes e que baseamos as nossas acções em análises profundas do mercado."
DESENTENDIMENTO ENTRE IRÃO E ARÁBIA SAUDITA
O Irão, terceiro maior produtor de petróleo da OPEP, exigia que a OPEP rejeitasse pedidos de Trump para um aumento da oferta, argumentando que foi o presidente dos EUA quem contribuiu para a recente alta nos preços ao impor sanções contra o Irão e a Venezuela, outro grande exportador da commodity.
Trump lançou novas sanções contra o Irão em maio e observadores do mercado esperam que a produção do país caia em um-terço até ao final deste ano. Isso significa que o país tem pouco a ganhar com um acordo para aumento de produção, diferente do que ocorre com a Arábia Saudita.
O ministro do Petróleo do Irão, Bijan Zanganeh, afirmou que o aumento real pode ser de apenas 500 mil barris por dia porque a Arábia Saudita não terá permissão para produzir mais para compensar a Venezuela, onde a produção despencou nos últimos meses.
"Cada país que tem produzido menos (que sua quota) pode produzir mais. Aqueles que não podem, não vão... Isso significa que a Arábia Saudita pode aumentar a sua produção em menos que 100 mil barris diários", disse Zanganeh à Argus Media.
Mas Falih afirmou que as realocações de quota não precisam ser restritas, o que significa que a Arábia Saudita quer preencher as diferenças de produção de outros países.
"Alguns dos países...não vão poder produzir, então, outros vão. E isso significa que haverá uma realocação indirecta", disse Falih.
A OPEP e os seus aliados têm desde o ano passado promovido um pacto para reduzir produção em 1,8 milhão de barris diários. A medida tem ajudado a reequilibrar o mercado nos últimos 18 meses e elevado os preços do petróleo LCOc1 para cerca de 75 dólares o barril ante 27 dólares em 2016.
Mas problemas de produção na Venezuela, Líbia e Angola efectivamente levaram os cortes de produção para cerca de 2,8 milhões de barris nos últimos meses.
Falih afirmou que o mundo pode enfrentar um déficit de oferta de até 1,8 milhão de barris por dia no segundo semestre deste ano.
Os EUA, que rivalizam com Rússia e Arábia Saudita, a liderança de maior produtor de petróleo do mundo, não está a participar do acordo de oferta.
(Por Ahmad Ghaddar, Alex Lawler e Vladimir Soldatkin)
História em inglês: para português por Sérgio Gonçalves)