Por Sergio Goncalves
LISBOA, 16 Jun (Reuters) - O Banco de Portugal (BdP) está mais pessimista que o Governo e prevê que a pandemia do coronavírus provoque a maior recessão do país num século, vendo o PIB a contrair 9,5% em 2020, com as exportações a caírem a pique e forte queda da procura interna.
Esta descida do PIB compara com a queda entre 3,7% e 5,7% estimada pelo banco central no final de Março e é mais severa do que a contração de 6,9% prevista pelo Governo.
No Boletim Económico de Junho, o BdP justifica o agravamento das suas projeções com "o impacto negativo muito acentuado da pandemia durante o primeiro semestre".
O BdP estima que, após ter caído 3,8% no primeiro trimestre contra o trimestre anterior, o PIB terá tido no segundo trimestre uma queda em cadeia "sem precedente histórico" em torno de 15%.
"Em 2020 deverá observar-se a maior redução da actividade económica do último século...num contexto de reduções do PIB mundial e do comércio internacional apenas comparáveis às registadas na Grande Depressão de 1929", afirmou o BdP.
A queda do PIB estimada pelo BdP para este ano é mais do dobro do que a contração de 4,06% em 2012, quando o país sofria com a crise financeira e estava sob um austero bailout, e compara com o crescimento de 2,2% em 2019.
As exportações deverão descer 25,3% em 2020, após crescerem 3,7% em 2019; a formação bruta de capital fixo (FBCF) é vista a cair 11,1% contra o crescimento de 6,3%; e o consumo privado deverá contrair 8,9% contra o crescimento de 2,2%, disse o BdP.
A taxa de desemprego deverá subir para 10,1% em 2020 contra 6,5% em 2019.
A capacidade de financiamento, medida pelo saldo conjunto da balança corrente e de capital, deverá reduzir-se para 0,3% do PIB versus 0,9% em 2019, e a balança de bens e serviços deverá voltar a ter um défice, de 0,5% do PIB, "o que já não se verificava desde 2011".
Num quadro de "relativo controlo da epidemia e de progressivo levantamento das medidas de contenção adoptadas", o BdP perspetiva que "a atividade económica comece a recuperar a partir do terceiro trimestre de 2020".
O BdP projeta que o PIB cresça 5,2% em 2021 e 3,8% em 2022.
"No final do horizonte de projeção, a actividade deverá situar-se num nível próximo do observado em 2019, mas consideravelmente abaixo do esperado antes da pandemia", disse.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua e Catarina Demony)