Por Sergio Goncalves
LISBOA, 5 Jun (Reuters) - A banca portuguesa continua a mostrar fragilidades, apesar da redução significativa do crédito malparado e melhoria da rentabilidade, estando muito exposta à dívida pública de Portugal, ao mercado imobiliário e a países exportadores de matérias-primas como petróleo, alertou o Banco de Portugal (BP).
Adiantou que "os bancos portugueses têm cumprido - e ultrapassado - os objectivos" dos planos de redução de 'non performing loans': nos últimos dois anos e meio, cortaram o stock de NPLs em cerca de 50% face aos 50.000 ME no 'pico' histórico em Junho de 2016.
O rácio de NPL caiu para 9,4% em Dezembro de 2018 contra 11,3% três meses antes e 17,9% face ao recorde histórico.
Mas, o rácio de NPL - o calcanhar de Aquiles da banca portuguesa que se tornou visível quando o país estava num austero resgate externo e em recessão - "apesar das significativas melhorias, permanece elevado no contexto europeu", que se situa em média à volta dos 3,3%.
"No sistema financeiro subsistem igualmente fragilidades, designadamente a elevada exposição a determinadas classes de activos, em particular aos títulos de dívida pública portuguesa, mas também ao mercado imobiliário", disse no Relatório de Estabilidade Financeira.
Adiantou que outra fragilidade é a exposição "a algumas economias em desenvolvimento particularmente dependentes da exportação de matérias-primas", como Angola, que é um país produtor de petróleo.
Explicou que uma eventual reavaliação "significativa e abrupta dos prémios de risco nos mercados internacionais continua a ser o principal risco".
Afirmou que os bancos residentes tinham em Dezembro de 2018 cerca de 8,8% do seu activo exposto a dívida pública nacional, contra 8,3% um ano antes, e uma eventual subida de 100 pontos base das yields teria um impacto negativo de 51 bp no rácio CET1".
"Esta exposição constitui uma vulnerabilidade dos sistema bancário português", disse.
Recordou que a reavaliação dos prémios de risco poderá dar-se com o abrandamento mais acentuado da economia mundial, decorrente de incerteza política, tensões comerciais ou eventos de crédito de empresas.
IMOBILIÁRIO SOBREVALORIZADO
O BP frisou que "continua a existir evidência, em termos agregados, de sobrevalorização no mercado imobiliário residencial desde a segunda metade de 2017".
Lembrou que o mercado imobiliário está "particularmente dependente da intervenção de não-residentes", seja por via do turismo, seja pelo investimento directo.
"O abrandamento mais acentuado da actividade económica a nível global (...) e eventuais alterações no quadro regulamentar nacional (...) poderão vir a traduzir-se numa interrupção abrupta do dinamismo do imobiliário e, consequentemente, num ajustamento em baixa dos preços", avisou.
O banco central realçou que "a economia portuguesa continua a apresentar vulnerabilidades", como o elevado endividamento do sector privado não financeiro, a reduzida taxa de poupança e o baixo crescimento potencial.
Estas vulnerabilidades tornam a economia "particularmente susceptível a choques adversos, nomeadamente a uma reavaliação significativa e abrupta dos prémios de risco nos mercados internacionais".
"É essencial prosseguir políticas que promovam a sustentabilidade das finanças públicas, a poupança dos particulares e das empresas, o crescimento potencial da economia portuguesa e a resiliência do sistema bancário", concluiu.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Patrícia Vicente Rua)