LISBOA, 23 Set (Reuters) - O Fundo de Resolução mantém como prioridade a venda directa do 'good bank' Novo Banco, estando aparentemente os quatro concorrentes que se perfilaram em Junho, a criar condições para apresentarem ofertas, disse o Chief Executive Officer (CEO) António Ramalho.
Em 30 de Junho, o BP anunciou que recebeu quatro propostas para a compra do Novo Banco, na segunda tentativa de alienação deste banco de transição, que surgiu dos escombros do colapsado Banco Espírito Santo (BES) em meados de 2014.
O BP, que é a autoridade de resolução, não identificou os interessados, mas fontes financeiras disseram à Reuters que o BPI BBPI.LS , o fundo norte-americano Apollo APO.N aliado à 'private equity' Centerbridge, e a 'private equity' Lone Star apresentaram propostas para comprar o Novo Banco.
O Millennium bcp BCP.LS entregou uma carta de interesse com determinado perfil, mas sem avançar uma proposta financeira concreta.
"Estamos satisfeitos pelo máximo de interessados possíveis, que continuam, digamos assim, no processo de venda directa, que como está escrito na carta (enviada aos colaboradores esta semana), nós damos prioridade", disse António Ramalho, em declarações aos jornalistas televisionadas pela SIC.
"(Há) uma prioridade específica: venda directa. Tivemos a boa notícia que os quatro concorrentes aparentemente estão a criar condições para puderem fazer as suas ofertas", adiantou.
Frisou: "o Fundo de Resolução, sobretudo, aguarda as melhores condições para que essas ofertes sejam feitas".
"A venda directa é um processo que está a correr, é liderado pelo Fundo de Resolução e muito bem. Quanto a todos os outros (potenciais interessados), assinei acordos de confidencialidade", disse, adiantando: "todos os acordos de confidencialidade, como podem imaginar, por questões de princípio, não os comentarei".
A 20 de Setembro, numa carta enviada aos colaboradores, António Ramalho tinha dito que o Novo Banco atraiu o interesse comprador de novos investidores institucionais no último mês, para além das quatro propostas recebidas pelo Banco de Portugal (BP) em Junho, e o 'good bank' está a finalizar os trabalhos cruciais para um eventual IPO institucional.
"Não existe assim, objectivamente, nenhuma razão, para que o banco não encontre um ou vários accionistas neste processo de venda em curso, nesta ou noutra modalidade", disse António Ramalho, numa nota interna, enviada ontem ao início da noite aos seus colaboradores, a que a Reuters teve acesso.
Nessa missiva, António Ramalho lembrou que há um mês, quando tomou posse, assumiu com primeira prioridade uma "nova responsabilidade na gestão do capital que envolve o Management na resolução do problema accionista".
"Nesse sentido, continuamos a apoiar intensamente o Fundo de Resolução na venda directa, estamos em vias de terminar os trabalhos essenciais à preparação de um eventual IPO para Institucionais", disse, explicando que foi criada uma equipa para "desenvolver e apresentar várias soluções de capital, alternativas e complementares ao processo em curso".
"Neste mês também se notou uma renovada atenção dos actuais concorrentes à compra direta do nosso banco, bem como um novo interesse por novos investidores potenciais em ambiente de IPO (Initial Public Offering)", referiu António Ramalho.
Os analistas têm realçado que o Novo Banco tem várias contingências legais, que podem representar um risco muito elevado para os eventuais compradores, dificultando a alienação.
Aquando da resolução do BES, foi injectado 4.900 milhões de euros (ME) no capital do Novo Banco, tendo o Tesouro concedido um empréstimo de 3.900 ME ao Fundo de Resolução, que é detido pelos bancos do sistema.
A 30 de Dezembro de 2015, o BP transferiu de volta para o 'bad bank' BES obrigações com 1.985 ME de valor de balanço, permitindo reforçar o capital do Novo Banco, mas levando a um conjunto de acções judiciais contra esta determinação.
No fim de 2015, as autoridades europeias estenderam o prazo máximo de venda deste banco de transição em um ano para até Agosto de 2017.
Em simultâneo, o BP alargou as opções do modelo de alienação, passando a prevêr que o banco possa ser vendido directamente a investidores estratégicos da banca ou seguros, a institucionais, ou numa oferta pública de acções.
(Por Sérgio Gonçalves)