Por Sergio Goncalves
LISBOA, 14 Fev (Reuters) - O fundo norte-americano Elliott anunciou que propôs à EDP-Energias de Portugal EDP.LS uma alternativa "superior" ao 'bid' de 9.000 milhões de euros (ME) da China Three Gorges (CTG), querendo que a empresa portuguesa se foque em renováveis, venda activos para cortar dívida e estimular o investimento.
Apesar de respeitar o papel da CTG como maior accionista da EDP (SA:ENBR3), não considera que o 'bid' da CTG - na sua forma actual - seja do melhor interesse dos 'stakeholders', disse.
Este investidor activista, que entrou na EDP em Outubro e tem agora uma posição de 2,9 pct, realçou que "a estagnação da Oferta teve como efeito prático impedir o crescimento da EDP, o que originou má performance do valor das ações da EDP relativamente às outras empresas do sector".
Na opinião da Elliott, a oferta pública de aquisição (OPA) da CTG lançada em Junho de 2018, deixaria a EDP mais fraca, com um portfólio menos atraente e com menores oportunidades de crescimento.
"Acreditamos que o actual impasse pode ser superado. Para o efeito, esperamos que as nossas sugestões - partilhadas com o mais vasto conjunto de participantes no mercado - possam gerar o impulso necessário para a EDP traçar um novo caminho em frente", disse numa carta ao Conselho Geral e de Supervisão da EDP e ao Conselho de Administração Executivo,
Considera que a EDP tem activos de alta qualidade, ainda que desvalorizados, e quer transformá-la numa 'ideal utility' focada nas áreas 'core' de especialização tecnológica - renováveis -, com menor alavancagem e maior capacidade de investir no crescimento.
A EDP é um top player europeu em renováveis, com uma larga presença nos EUA e uma operação no Brazil. O Estado chinês é o maior acionista da EDP com 28 pct do capital através dos 23 pct detidos pela CTG e dos 5 pct da CNIC.
VENDER ACTIVOS
Numa apresentação da sua proposta, a Elliott projecta que a EDP cristalize 7.600 ME de valor com vendas activos, através da alienação dos 51 pct que tem na EDP Brasil por 2.300 ME, do portfólio de geração térmica ibérica por 1.700 ME e de uma posição minoritária de 49 pct da distribuição de electricidade na Ibéria.
Esta optimização do portfólio permitiria investir 3.500 ME "para acelerar o capex em projectos de alto retorno de renováveis, adicionando cerca de 3,5 GW de capacidade extra no curto prazo", bem como executar um 'share buyback' de 1.200 ME.
Também permitiria baixar o endividamento em 2.800 ME e o rácio Net Debt/EBITDA (pro forma) caíria para 3,0 vezes em 2020 face ao consenso estimado para 2019 de 4,0 vezes.
O fundo norte-americano estima que a sua proposta levaria o EBITDA a ter um crescimento médio anual composto (CAGR) de 7,3 entre 2019 e 2022, substancialmente superior ao CAGR de 2,1 pct se a EDP mantesse o actual 'status quo'.
Prevê que o 'dividend per share' tenha um CAGR de 11,5 pct, que compara com a política estável de um dividendo de 19 cêntimos que a EDP paga desde 2016.
Os 'earnings per share' são vistos a ter um CAGR de 7 pct até 2022, que compara com 5,1 pct do actual 'status quo' da EDP.
A oferta da CTG para comprar a EDP e a EDP Renováveis, com respectivos preços de 3,26 euros por acção e de 7,33 euros, foram rejeitados pelas duas empresas portuguesas.
Os analistas vêm muito difícil que a CTG consiga o 'OK' das autoridades norte-americanas - Cifius - para comprar os activos nos EUA, bem como da DG COMP europeia. O 'bid' pode violar as regras europeias de concorrência relativas ao 'unbundling' - a obrigação de separar a produção e a distribuição de electricidade do transporte.
Em Portugal, o transporte de electricidade é fornecido pela REN-Redes Energéticas Nacionais RENE.LS , que é detida em 25 pct pela China State Grid, que, como a CTG, é propriedade do Estado chinês. A EDP produz e distribui electricidade.
(Por Sérgio Gonçalves; Editado por Axel Bugge)