Por Daniel Alvarenga
LISBOA, 24 Out (Reuters) - O cluster de aeronáutica e defesa de Portugal atingiu 1.720 milhões de euros (ME) de vendas ou 1 pct do PIB em 2015 e quer duplicar este peso em 10 anos, captando fundos europeus e capitalizando a experiência da madura indústria autómovel, segundo os líderes da federação AED.
As 62 empresas e institutos reunidos na Federação da Aeronáutica, Espaço e Defesa (AED) empregam 18.500 pessoas e exporta 87 pct das vendas.
"De um peso de 1 pct no PIB, podemos vir a ter uma contribuição superior a 2 pct do PIB nos próximos 10 anos. É perfeitamente possível", disse José Marcelino, chairman da Associação Portuguesa da Indústria Aeroespacial (PEMAS), em declarações à Reuters.
"Qualquer projecto no sector tem uma capacidade multiplicadora muito grande".
EMBRAER VOA
José Marcelino frisou que o projecto da Embraer EMBR3.SA em Portugal está estabilizado e foi fechado recentemente um projecto sobre como será a aviação em 2030, que pode criar novas oportunidades.
A fábrica da Embraer em Évora é das maiores do grupo fora do território brasileiro, focando-se na produção de estruturas metálicas e materiais compósitos para aviações comerciais.
"Começámos agora a trabalhar com a Airbus AIR.PA no âmbito do projecto europeu 'Clean Air', que é muito promissor", disse o chairman da Associação Portuguesa da Indústria Aeroespacial.
O projecto 'Clean Air' alocou fundos europeus a um consórcio liderado pela Caetano Aeronautics, empresa detida em partes iguais pela Salvador Caetano SCT.LS e Grupo Aciturri.
"Do bolo total europeu de 4.000 ME para o projecto 'Clean Air', poderão chegar a Portugal, numa perspectiva conservadora, um total de 30 a 40 ME. O projecto com a Caetano Aerospace deverá absorver cerca de 6 ME de fundos de um projecto de 9 ME de investimento total", adiantou João Romana, Director Geral da PEMAS.
O projecto 'Clean Air' financia a investigação sobre formas de melhorar sistemas, asas, combustível e motores, estudando como os tornar mais leves, baratos, resistentes e seguros.
"Visa também reduzir o custo dos transportes aéreos e a pegada de carbono", vincou João Romana, sublinhando que liga empresas portuguesas a grandes 'players' globais como a Dassault AVMD.PA , Rolls Royce RR.L , Augusta Westland e Finmeccanica.
COMO AUTOEUROPA?
Os líderes das três associações - aeronáutica, aeroespacial e defesa - sublinharam que as suas áreas têm grande capacidade multiplicadora e vão beneficiar da tranferência de tecnologia vinda do sector automóvel.
"Cada euro investido no espaço em Portugal, tem um retorno de 4 euros. O valor acrescentado por colaborador é quatro vezes a média nacional e o sector é 100 pct exportador", disse António Neto Silva, Chairman da Associação das Indústrias do Espaço.
"Trabalhamos para o mercado externo onde a agência espacial europeia tem um papel fundamental. Estamos neste momento numa fase muito importante".
António Neto Silva, que foi o negociador-chefe do projecto da Autoeuropa nos anos 90, compara o potencial do sector aeronático com este histórico projecto-bandeira, pedra angular do investimento estrangeiro em Portugal.
"Na altura, 22 pct das exportações de Portugal eram têxteis e calçado, a Autoeuropa trouxe-nos a possibilidade de alterar a estrutura das exportações, com um valor investido de 3.000 milhões de dólares", disse.
Actualmente, as máquinas, aparelhos e veículos são os principais grupos de exportações de Portugal, representando mais de 27 pct das vendas. As rubricas matérias têxteis e calçado contam cerca de 8 pct.
"A área da aeronáutica é um sector que pode aportar a Portugal o que aportou a Autoeuropa, sem dúvida", frisou António Neto Silva.
Lembrou, contudo, que neste sector, as fases de desenvolvimento são extremamente prolongadas, sendo cruciais os apoios Estatais.
"A capacidade de privados sustentarem o processo de desenvolvimento não motiva os privados puros a fazer isso. Só se pode investir quando há uma lógica institucional forte. O Governo, o Estado não tem de apostar nos sectores", disse.
No sector da defesa, o General José Cordeiro, Chairman da Associação das Empresas da Defesa, Armamento e Novas Tecnologias de Portugal (DANOTEC), vê muito potencial.
"Ao contrário de outros países, Portugal não tem conflitos de interesses com muitos 'players' globais que podem ser potenciais clientes do nosso sector. Não somos uma ameaça estratégica e isso é uma vantagem", disse José Cordeiro.
"Os países árabes tem manifestado muito interesse (no sector português. Estão a fazer grande esforço de reequipamento militar e nós estamos atentos a isso".
Explicou, dada a sensibilidade do sector da segurança, os negócios funcionam 'government to government' e que em Portugal tudo o que é produzido tem duplo uso: militar e civil.
"Como vamos crescer para fazer face a ameaças que possam surgir?", concluiu. (Editado por Sérgio Gonçalves)