(Acrescenta informação, citações do CEO)
Por Sergio Goncalves
LISBOA, 8 Mai (Reuters) - O Millennium bcp BCP.LS teve um lucro acima do previsto de 50,1 milhões de euros (ME) no primeiro trimestre de 2017, contra o lucro de 46,7 ME no período homólogo, pressionado por fortes imparidades, apesar da subida da margem financeira, anunciou o maior banco privado português.
"O resultado do primeiro trimestre (de 2017) beneficiou da expansão contínua do resultado core, que se cifrou em 254,8 ME, um crescimento de 20 pct face ao primeiro trimestre do ano anterior", disse o Chief Executive Officer (CEO) Nuno Amado.
"Aumentámos as imparidades, reforçámos o Balanço. (Houve) uma evolução favorável do negócio em Portugal, com especial destaque para a captação de clientes", adiantou.
A penalizar os resultados, as imparidades dispararam 27,7 pct em termos homólogos para 203,2 ME nos três meses de 2017 - as imparidades de crédito diminuiram 7,3 pct para 148,9 ME, mas as outras imparidades a subirem 253,9 pct para 54,3 ME.
O CEO explicou que o reforço das outras imparidades se ficou a dever sobretudo ao finalizar de algumas dotações para fundos de reestruturação na construção, dotações adequadas para dacções em pagamento e para reforço relativas a garantias nesta área.
Contudo, a margem financeira - diferença entre os juros cobrados nos empréstimos e pagos nos depósitos - teve um aumento homólogo de 13,7 pct para 332,3 ME no primeiro trimestre de 2017.
A margem financeira beneficiou do impacto positivo do pagamento da caríssima ajuda (Coco's) ao Estado, concluído em Fevereiro de 2017, mas também da continuação do 'repricing' da carteira de depósitos a prazo.
Nos três meses de 2017, as comissões caíram 1,9 pct para 160,8 ME.
Afirmou que os custos cairam 2 pct e o 'cost to core income' - margem financeira+comissões/custos operacionais - desceu para 48,3 pct no final de Março de 2017 contra 53,3 pct, frisando o CEO: "somos dos bancos mais eficientes da zona euro".
O CEO realçou que o reforço do capital no início de fevereiro, permitiu o reembolso total dos CoCos e elevou o rácio 'common equity CET1 fully implemented para 11,2 pct e 13,0 pct em base phased-in, que são níveis "adequados".
CAMINHO METAS 2018
O Return on Equity (ROE) situou-se em 4,1 pct no final de Março de 2017, tendo o Millennium bcp o objectivo de alcançar um ROE de cerca de 10 pct em 2018.
"2017 é um ano desafiante, transitório (...) e os objectivos para 2018 não são fáceis (...) mas estamos confiantes que os vamos atingir", afirmou Nuno Amado.
Explicou que, para o Millennium bcp atingir essa meta, tem de atingir um resultado operacional anual antes de imparidades de 1.200 ME, frisando: "já estamos praticamente lá".
Aliado a isto terá de haver alguma redução do custo do risco.
O CEO destacou a "continuação da redução dos NPEs e dos NPLs em Portugal, com um aumento da cobertura total, incluindo garantias, para 100 pct".
Os NPEs em Portugal desceramm para 8,3 mil ME em 31 de março de 2017, "com ritmo muito elevado de redução desde 2013: média de 1,4 mil ME por ano.
Houve uma descida dos NPLs a mais de 90 dias para 4,8 mil ME em 31 de março de 2017, "com redução significativa das entradas líquidas para 21 ME no primeiro trimestre de 2017".
O CEO destacou a inversão da tendência de redução do crédito, particularmente visível na carteira de crédito performing, que aumentou 247 ME no primeiro trimestre de 2017.
Houve também uma redução da utilização de financiamento líquido do Banco Central Europeu (BCE) para 3,7 mil ME, face a 4,4 mil ME no final de 2016 e a 5,3 mil ME em 31 de março de 2016.
E LONE STAR?
Nuno Amado vincou que "espera que não haja efeitos de outra natureza no BCP pela compra do Novo Banco pela Lone Star".
"Em imparidade, não vejo que haja. Em termos de concorrência acho que há um efeito normal. (Espero que) os incentivos à operação da Lone Star sejam os certos e equilibrados, e que sejam favoráveis para a generalidade do sistema e para uma sã e lógica concorrência no sistema", adiantou.
Acerca da venda pressupôr um instrumento de capital contigente, da ordem dos 3.890 ME, Nuno Amado foi claro: "espero que não haja a subsidiação de uma instituição por outra".
Nuno Amado referiu que, quando tiver informação sobre a solução que está a ser gizada pelas autoridades para o crédito malparado, que até "pode não ser um veículo", o Millennium bcp analisará "com boa fé".
"Entretanto, fazemos o que temos de fazer: o nosso trabalho de casa, que é a redução dos NPEs - que era de quase 13.000 ME há 3 anos atrás e teve uma redução extraordinária e vamos continuar (a reduzir)", disse.
"(Mas) qualquer solução deve ter em atenção a transparência e a forma como instituição está a trabalhar e, qualquer solução, não deve ser destrutiva de capital", frisou.
E tem de tornar os processos de recuperação mais fáceis. (Por Sérgio Gonçalves; Editado por Daniel Alvarenga)