Por Sergio Goncalves
LISBOA, 24 Jan (Reuters) - Portugal restabeleceu o acesso robusto aos mercados de dívida e fortaleceu a banca, estando o país menos vulnerável a choques externos, mas é crucial manter o ímpeto reformista, disse Matjaz Sušec, director adjunto de Estratégia e Relações Institucionais do Mecanismo Europeu de Estabilidade (ESM).
Adiantou que, "como uma pequena economia aberta, Portugal é susceptível a riscos que também afectam outros países da área do euro - o Brexit, a nova escalada das disputas comerciais, o aperto mais rápido do que esperado das condições financeiras globais ou o gradual enfraquecimento dos gastos privados".
O também coordenador da equipa do ESM em Portugal destacou, numa conferência organizada pela Fitch, que "é encorajador que hoje Portugal está em melhor posição para enfrentar estes riscos do que antes do programa".
"É justo dizer hoje que Portugal reforçou o seu estatuto de país que está a deixar as consequências da crise passada.
Isto segue um histórico de realizações económicas e acesso robusto aos mercados financeiros, o que torna Portugal menos vulnerável a choques económicos", acrescentou.
Salientou, como positivo, que Portugal se esteja a financiar na maturidade a 10 anos com uma yield entre 1,5 e 2 pct, mantendo spreads negativos face a Itália.
Afirmou que, desde o final do programa de resgate em meados de 2014, Portugal fez "um trabalho notável" na manutenção do acesso ao mercado e na recuperação de grau de investimento pelas principais agências de rating, tendo o IGCP aumentado o prazo médio da dívida e mantido um elevado cash buffer.
"Isso permitiu ao país recuperar e reter acesso total ao mercado (de dívida) e a confiança (dos investidores)", referindo que "as políticas prudentes de gestão orçamental e dívida" permitiram pagar antecipadamente o empréstimo do FMI.
BANCA MELHOR
Matjaz Susec sublinhou que Portugal fez uma reestruturação bancária, que "beneficiou a estabilidade financeira", com recapitalizações e descida dos 'non performing loans', estando "os bancos agora significativamente mais resilientes".
Afirmou que "o stock de créditos malparados tem vindo a diminuir a um ritmo acelerado e está agora mais de um terço abaixo do pico de 2016".
Em Setembro de 2018, os bancos portugueses tinham 31.171 milhões de euros (ME) de 'non performing loans' brutos, uma descida de 16 pct face a Dezembro de 2017 e um brutal corte de 38 pct comparando com Junho de 2016, quando os NPLs atingiram um máximo histórico em redor dos 50.000 ME.
"Apesar dos progressos realizados nos bancos nos últimos anos, Portugal continua a ter um dos níveis mais elevados de crédito malparado na área do euro", adiantou.
"Melhorar ainda mais a qualidade dos ativos continua a ser crucial para melhorar a resiliência dos bancos e a sua capacidade de apoiar a economia", alertou.
MANTER CONFIANÇA
Contudo, Matjaz Susec afirmou que a actual confiança dos investidores tem de ser "mantida contínuas políticas orientadas para reformas".
Entre estas destacou a reduçao dos sectores não transaccionáveis da economia, aumento da produtividade laboral, políticas orçamentais prudentes para garantir a sustentabilidade das finanças públicas, reduzir a alta dívida pública e privada e um melhor ambiente de negócios que apoie o investimento.
"Enfrentar estes desafios continua a ser fundamental para aumentar o crescimento potencial, o que é importante quando se enfrenta ventos contrários devido a uma possível desaceleração global", disse o responsável do ESM.
(Por Sérgio Gonçalves Editado por Patrícia Vicente Rua)