Por Sergio Goncalves
LISBOA, 9 Mai (Reuters) - O sistema bancário português está mais robusto após ter cortado 20 pct do crédito malparado em 2017, mas o ideal seria os accionistas dos bancos avançarem com aumentos de capital para acelerarem a redução das exposições problemáticas, disse o governador do Banco de Portugal (BP).
Carlos Costa, frisou que a alienação de activos não-produtivos é crucial para "reforçar a rentabilidade dos bancos, reforçar a atractividade para o mercado e melhorar o rácio entre o valor de mercado e o valor de Balanço dos bancos".
Mas, referiu que "os bancos têm de gerir a questão do crédito não-produtivo e dos activos não-produtivos de forma a acelerar a sua eliminação, sem colocar em risco os seus rácios de capital".
"O ideal é que nós tenhamos a breve prazo accionistas que acreditem nos bancos onde participam, estejam disponíveis para fazer um aumento de capital e absorver a diluição que pode resultar desse facto e absorver as perdas (da alienação de activos não-performantes)", disse Carlos Costa.
"E a seguir apresentar um balanço que inspira confiança ao mercado e aumentar imediatamente a cotação", acrescentou o também membro do Concelho de Governadores do Banco Central Europeu.
COTAÇÃO COMPENSA
Afirmou que aquilo que os accionistas "vão receber pela via da cotação, do preço de mercado, é a compensação daquilo que pagaram no momento em que fizeram sair do balanço os activos não produtivos".
"Espero que os accionistas percebam que o que vão recuperar em termos de valorização do banco compensa o custo que têm de suportar no presente. Mas, para suportar o custo, é preciso ter recursos e portanto a questão básica é levantar o capital para colocar lá", vincou Carlos Costa.
O governador do BP sublinhou que essa decisão não pode ser tomada pelo decisor público, porque seria ajuda pública, nem supervisor, se a instituição satisfaz os rácios de capital e as exigências.
Mas, para poder fazer isto "é preciso que haja vontade do banco assumir as perdas de uma venda antecipada, que essas perdas sejam compatíveis ou com as almofadas de capital ou com a disponibilidade dos accionistas para porem capital".
Lembrou que também é necessário que haja "compradores no mercado interessados em comprar esses activos por um preço interessante, ou seja é preciso que haja um mercado organizado".
"Porque a ajuda pública está excluída pelas regras da concorrência e porque, se os valores de rácios de capital não forem salvaguardados, os bancos entram em zona muito turbulenta".
Lembrou que os bancos actualmente, de acordo com processo de revisão anual de supervisão (SREP) já pagam uma factura pelo facto de terem no seu balanço mais activos não produtivos do que a média porque lhes é imposto um adicional de exigência de capital.
"Há um dilema (para o banco): quer beneficiar de uma perspectiva mais brilhante e paga um custo no presente ou aceita uma vida mais medíocre durante algum tempo para não pagar o custo presente", referiu Carlos Costa.
MAIS ROBUSTO
Adiantou que, no domínio da supervisão prudencial das instituições, o BP desenvolveu, no quadro do Mecanismo Único de Supervisão, um conjunto amplo de ações que permitiram reforçar os capitais próprios e a robustez do sistema bancário nacional".
Destacou "a imposição e monitorização de planos estratégicos para a redução dos activos não produtivos que oneram os balanços das instituições de crédito".
"A redução destes activos no balanço dos bancos nacionais ascendeu a 9.300 milhões de euros (ME) em 2017, uma diminuição de 20 pct face ao 'stock' de NPL no final de 2016", referiu.
(Por Sérgio Gonçalves Editado por Patrícia Vicente Rua)