Por Sergio Goncalves
LISBOA, 15 Mar (Reuters) - Fusões e aquisições são um próximo passo "natural" para os bancos portugueses, pressionados por taxas de juros baixas recorde, disse o governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, nesta segunda-feira.
Portugal chegou tarde ao processo de reestruturação do sector bancário que outros países europeus experimentaram, enquanto os bancos portugueses ainda tentavam desesperadamente cortar crédito malparado e fortalecer os rácios de capital, disse Centeno à Reuters.
O crédito malparado detido por bancos portugueses caiu desde então para 5% do total do crédito bancário, face ao pico de 17% em 2016, acompanhado por cortes de dimensão semelhante em sucursais e pessoal.
Ele disse que, "neste período de 2016 e 2017, a banca portuguesa foi a única que consegui captar capital de grande dimensão para o mercado portugues dos quatro continentes do mundo - Ásia, África, EUA e Europa".
"É evidente que tendo a necessidade de fazer todas estas transformações, a questão das fusões não tenha sido uma prioridade neste período", disse Centeno, que também é membro do Conselho de Governadores do Banco Central Europeu, numa entrevista à Reuters.
"É um desenvolvimento de mercado, ele está aí, as taxas de juro baixas é um fenómeno mais recente e põe pressão na rentabilidade da banca enormíssima, não é um fenómeno de 2016 e 2017", disse Centeno.
Adiantou: "eu estou confiante que os bancos em Portugal perceberão esse desafio e estarão preparados para lhe dar resposta".
"Há processos de venda de instituiçoes bancárias a acontecer em Portugal, essa é uma forma de haver este tipo de consolidação, e há estratégias que eu acho que são convergentes entre bancos e que podem levar a esses fenómenos".
O espanhol Abanca desistiu de comprar o controlo da EuroBic, na qual a multi-milionária angolana Isabel dos Santos tenta vender a sua participação de 42,5%, em Julho, mas disse ainda ter interesse em Portugal.
Recordou que "as fusões são um fenómeno de mercado, elas devem resultar de desenvolvimentos de mercado e devem ser vistos com naturalidade", frisando: "elas são mais prováveis em mercados em que há choques negativos à rentabilidade das empresas (dos bancos)".
"É uma resposta do mercado à necessidade de haver ganhos, as sinergias, entre instituições quando elas se juntam", explicou.
"Portanto, eu anteciparia que em Portugal essas fusões aparecessem e fosse desenvolvimentos naturais do mercado", disse.
Centeno disse que o fim das moratórias de empréstimos, introduzido no ano passado para ajudar a economia durante a pandemia, não deve causar um salto dramático no crédito malparado.
"Não temos sinais que isso possa acontecer. É um processo que depende muito de como a actividade económica for recuperando ao longo do ano", afirmou Centeno.
"Em 2020, os rácios de crédito malparado voltaram a cair em Portugal...os bancos portugueses tem um nível de imparização muito grande destes créditos malparados".
Centeno disse que o banco central está a monitorar de perto todos os dados numa base semanal e é muito cedo para dizer se irá revêr a sua previsão de um crescimento de 3,9% em 2021, apesar do primeiro trimestre ser afectado por um novo confinamento. (Reportagem de Andrei Khalip e Sergio Goncalves; Edição de Alexander Smith)